Drama sem fim: “Pior momento desde 1984”, diz prefeito após nova tragédia em cidade gaúcha
Cidade tem 80 porcento das estradas rurais intransitáveis e mais de mil pessoas fora de casa por conta das chuvas

Depois de quase duas semanas de tempo severo, o sol voltou a aparecer em Jaguari, na região central do Rio Grande do Sul, nesta segunda-feira (23).
A breve melhora no clima contrasta com os estragos provocados pela cheia do Rio Jaguari e pelas enxurradas que atingiram o município — o único do estado, até agora, a decretar estado de calamidade pública.
“Estamos vivendo o pior momento desde 1984”, afirmou o prefeito Igor Tambara. “O que estamos enfrentando é assustador, principalmente na área rural.”
Segundo ele, os danos causados pelas chuvas superam os registrados em maio deste ano. “Na década de 1980, o rio subiu mais, mas agora a destruição foi mais abrangente. Tivemos enxurradas que atingiram regiões nunca antes afetadas”, afirmou.
Rural devastado e prejuízos crescentes
Com cerca de 11 mil habitantes, Jaguari viu sua zona rural praticamente parar. “Temos aproximadamente mil quilômetros de estradas e 80% estão intransitáveis. Muitas pontes e pontilhões foram levados pelas águas. Em algumas casas do centro, a água recuou e deixou quase um metro de areia”, relatou Tambara.
Ao menos 1,2 mil moradores precisaram deixar seus lares. “É difícil precisar o número exato, porque muitos vão direto para casas de familiares e não passam pelos abrigos oficiais”, explicou.
A prefeitura estima um prejuízo inicial de R$ 20 milhões, valor necessário apenas para recuperar a infraestrutura básica e oferecer ajuda emergencial às famílias atingidas. “Sem apoio estadual e federal, não conseguiremos reconstruir a cidade”, alertou o prefeito, que pretende apresentar um plano de obras à Defesa Civil.
Além da reconstrução, Tambara defende ações estruturais. “Não é normal, em 12 meses, a água invadir as mesmas casas três vezes. Precisamos de soluções definitivas. Estamos estudando a construção de diques e intervenções no rio para reduzir o risco de novas inundações.”
RS soma mortos, desaparecidos e milhares fora de casa
Jaguari é um dos 132 municípios gaúchos que registraram estragos provocados pelas chuvas nas últimas semanas. Quatro mortes foram confirmadas — em Aratiba, Nova Petrópolis, Sapucaia do Sul e Candelária.
Nesta última, um homem segue desaparecido. Em Santa Tereza, outro óbito está sob apuração, mas por enquanto não foi relacionado diretamente às chuvas.
Até a manhã desta segunda-feira, a Defesa Civil contabilizava 6.258 pessoas desalojadas e 1.071 desabrigadas no estado. Desalojados são os que buscaram abrigo temporário em casas de amigos, parentes ou pousadas.
Desabrigados são aqueles que precisaram recorrer a abrigos públicos ou instituições assistenciais.
Mais chuva, frio intenso e alerta de geada
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) alerta para uma frente fria que segue atuando sobre a Região Sul e parte do Centro-Oeste e Sudeste, com previsão de chuvas no norte do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, sul do Mato Grosso do Sul e faixa sul de São Paulo.
Além das chuvas, há alerta de ventos costeiros fortes até a tarde de terça-feira (24) em boa parte do litoral gaúcho, incluindo a região metropolitana de Porto Alegre.
Com a entrada da massa de ar frio, os termômetros devem despencar, com risco de geada generalizada no Sul e em trechos do Mato Grosso do Sul e de São Paulo. O frio deve começar a perder força apenas a partir de quarta-feira (25).
O Inmet também emitiu alerta laranja para quase dois mil municípios de nove estados — entre eles, RS, SC, PR, MS, MT, GO, MG, RO e SP. O alerta, válido até terça-feira (24), prevê queda brusca de temperatura, acima de 5 °C, com risco à saúde.
Possibilidade de neve nas serras
A combinação entre a umidade e o frio intenso mantém a expectativa de neve localizada nas serras gaúcha e catarinense, especialmente entre a noite desta segunda (23) e a manhã de terça.
Situação dos rios: monitoramento permanente
Com o excesso de chuva, diversos rios e lagos do estado seguem sob monitoramento, com diferentes níveis de alerta:
Rios com tendência de normalização:
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Taquari (Santa Tereza a Bom Retiro do Sul)
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Quaraí
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Dona Francisca
Rios em cota de atenção:
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Taquari (Porto Mariante)
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Caí (Costa do Rio Cadeia)
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Santa Maria (Rosário do Sul)
Rios em cota de alerta:
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Caí (Nova Palmira, São Sebastião do Caí e Montenegro)
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Guaíba
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Gravataí (Gravataí e Alvorada)
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Taquari (Taquari)
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Paranhana (Taquara)
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Santa Maria (Dom Pedrito)
Rios em cota de inundação:
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Uruguai (São Borja a Uruguaiana)
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Ibirapuitã (Alegrete)
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Ibicuí (Manoel Viana)
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Jacuí (Cachoeira do Sul a São Jerônimo)
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Ilhas da região metropolitana de Porto Alegre
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Sinos (Campo Bom e São Leopoldo)
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