Exportadores de café enfrentam prejuízo de R$ 8,9 milhões com gargalos logísticos nos portos brasileiros

Mesmo em plena entressafra, o setor cafeeiro brasileiro continua acumulando perdas com os gargalos logísticos nos portos do país.

Exportadores de café enfrentam prejuízo de R$ 8,9 milhões com gargalos logísticos nos portos brasileiros
Ilustrativa

Mesmo em plena entressafra, o setor cafeeiro brasileiro continua acumulando perdas com os gargalos logísticos nos portos do país. Em março de 2025, segundo dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), 637.767 sacas de café deixaram de ser embarcadas — volume equivalente a 1.932 contêineres. O problema gerou um prejuízo direto de R$ 8,901 milhões às empresas exportadoras, motivado por custos extras com armazenagem, detentions, pré-stacking e antecipação de gates.

Desde que o Cecafé iniciou o monitoramento dos impactos logísticos, em junho de 2024, o total de perdas acumuladas pelos exportadores já soma R$ 66,576 milhões. Além dos gastos adicionais, o país também deixou de arrecadar US$ 262,8 milhões em receita cambial em março, o equivalente a R$ 1,510 bilhão, devido à não concretização dos embarques. A estimativa considera o preço médio FOB da saca de café verde (US$ 336,33) e a cotação média do dólar a R$ 5,7462 no período.

“O Brasil é o país que mais repassa o preço FOB da exportação ao produtor. Quando o embarque não ocorre, o impacto recai diretamente sobre os cafeicultores, que recebem menos, mesmo entregando um produto de alta qualidade”, lamenta o diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron.

Infraestrutura aquém do crescimento do agro

Apesar dos anúncios recentes de investimentos em infraestrutura portuária — como o leilão do terminal TECON10, a concessão do canal de entrada marítima de Santos, o túnel Santos-Guarujá e a nova via da Rodovia Anchieta — Heron afirma que as entregas ainda levarão anos para se concretizar.

“Os investimentos são importantes, mas não resolvem os prejuízos imediatos. Precisamos de soluções urgentes para manter a competitividade do agro brasileiro.”

O cenário, segundo ele, é agravado pela defasagem estrutural dos principais portos em relação ao ritmo de crescimento do agronegócio.

“Mesmo em um período de menor volume, como a entressafra, mais de 600 mil sacas estão paradas nos pátios. Isso demonstra que o problema é crônico e não sazonal”, afirma.

Retrato da crise: Porto de Santos e Rio de Janeiro

Conforme o Boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela startup ElloX Digital em parceria com o Cecafé, 55% dos navios (179 de 325 embarcações) enfrentaram atrasos ou alterações de escala em março. O Porto de Santos, responsável por 78,5% das exportações de café no primeiro trimestre, teve o pior desempenho: 63% dos navios (113 embarcações) sofreram atrasos, com casos de espera de até 42 dias.

No mesmo mês, ocorreram 19 omissões de escalas e 13 cancelamentos de viagens no Porto de Santos, segundo dados monitorados pelo setor. O número limitado de dias de gate aberto também contribui para os entraves: apenas 12% dos embarques tiveram mais de quatro dias disponíveis para carga.

No complexo portuário do Rio de Janeiro, segundo maior exportador nacional de café (17,2% das remessas no trimestre), o índice de atrasos foi de 59%, com 43 dos 73 navios afetados. O maior intervalo registrado entre o primeiro e o último deadline foi de 15 dias. A maior parte dos gate openings durou menos de quatro dias, dificultando ainda mais a logística de embarque.

Diálogo com autoridades

O Cecafé mantém o diálogo com autoridades portuárias, o Ministério de Portos e Aeroportos, a Antaq e os terminais privados, destacando o esforço conjunto para buscar soluções.

“Temos recebido retorno e interesse por parte das instituições, mas precisamos avançar em ações de curto prazo. O setor exportador não pode continuar sendo penalizado por falhas na infraestrutura logística”, finaliza Eduardo Heron.

 

Com informações do Cecafé
FONTE: Agro+
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