Dólar alto sustenta preço do trigo na reta final da safra
O dólar se valoriza e dá suporte ao preço interno do trigo, entenda o impacto no seu negócio
Estamos na reta final de novembro de 2025 e a colheita do trigo avança a todo vapor pelo Brasil. Com as máquinas quase desligando, a lógica seria uma maior oferta do grão no mercado e, consequentemente, uma pressão para a queda nos preços, certo? Nem sempre. Nesta safra, um velho conhecido do produtor rural está entrando em campo para mudar o jogo: o dólar.
A moeda americana em alta está atuando como um verdadeiro pilar de sustentação para as cotações do trigo no mercado nacional. Mesmo com uma boa disponibilidade do produto, os preços se mantêm firmes e até sobem em algumas regiões. Entender essa dinâmica é fundamental para planejar os próximos passos, seja na venda da safra atual ou no planejamento da próxima.
A dança do trigo e do dólar no mercado
Para quem está no campo, pode parecer estranho que um fator externo como o câmbio tenha tanto poder sobre o preço de um produto colhido aqui. A explicação está no fato de o trigo ser uma commodity, ou seja, um produto com cotação internacional referenciada em dólar. O Brasil, apesar dos avanços em produtividade, ainda precisa importar parte do trigo que consome, o que nos conecta diretamente ao mercado global. Quando o dólar sobe, o custo de importação aumenta, fazendo com que o trigo nacional se torne mais competitivo e valorizado internamente. É o chamado preço de paridade de importação, um cálculo que baliza as negociações por aqui.
Além disso, um dólar mais forte torna as exportações brasileiras mais atraentes. O produtor que vende seu trigo para o mercado externo recebe em dólar e, ao converter para o Real, obtém um valor maior. Essa possibilidade de exportar com boa rentabilidade cria um piso para os preços internos. Ninguém quer vender no mercado doméstico por um valor muito inferior ao que poderia conseguir exportando. Assim, mesmo com os silos começando a encher, a cotação internacional e o câmbio ditam o ritmo da precificação, mostrando como a agricultura está conectada à economia global.
O que o dólar se valoriza e dá suporte ao preço interno significa na prática
Ver a notícia de que o dólar se valoriza e dá suporte ao preço interno pode gerar sentimentos mistos. Por um lado, é uma excelente notícia para a rentabilidade da lavoura. O preço de venda do grão em Reais aumenta, o que pode significar uma margem de lucro maior e um alívio no fluxo de caixa. Essa valorização ajuda a compensar os investimentos feitos ao longo de todo o ciclo produtivo e remunera o risco assumido pelo agricultor. Em estados compradores, como São Paulo, essa influência é ainda mais nítida, com os preços subindo de forma expressiva para atrair o cereal de outras regiões produtoras.
Por outro lado, essa mesma valorização do dólar acende um alerta para os custos de produção. Muitos dos insumos essenciais para a lavoura, como fertilizantes, defensivos e peças de maquinário, são importados ou têm seus preços atrelados à moeda americana. Na prática, o mesmo câmbio que ajuda na receita pode pesar na despesa. Para o produtor, o cenário exige uma gestão financeira afiada.
- Venda da safra: O momento pode ser oportuno para negociar lotes do trigo colhido, aproveitando a sustentação dos preços;
- Compra de insumos: É hora de pesquisar e planejar a aquisição de insumos para a próxima safra, pois a tendência é de custos mais elevados;
- Gestão de risco: Ferramentas como o travamento de preços e a negociação no mercado futuro se tornam ainda mais importantes para se proteger da volatilidade.
Raio-X da safra de trigo 2025
Enquanto o mercado financeiro movimenta os preços, o campo celebra os resultados de mais um ciclo. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a colheita da safra de 2025 já superou a marca de 74% da área total plantada no país.

No Rio Grande do Sul, um dos principais estados produtores, os trabalhos estão avançados e os preços se mantiveram estáveis na última semana, refletindo um mercado bem abastecido. Já em São Paulo, que depende do trigo vindo de outras praças, o cenário é de alta, com os moinhos precisando pagar mais para garantir a matéria-prima. Essa diferença regional mostra a complexidade do mercado brasileiro e como a logística e a dinâmica de oferta e demanda local também pesam nas negociações. O cenário onde o dólar se valoriza e dá suporte ao preço interno beneficia especialmente os estados com excedente de produção.
A pressão sobre moinhos e a indústria de derivados
Se para o produtor o cenário é de atenção, para a indústria de moagem e os fabricantes de derivados como pães, massas e biscoitos, o momento é de pressão. O repasse da alta do trigo para o produto final nem sempre é imediato ou integral. A indústria precisa negociar com o varejo e sentir a disposição do consumidor em absorver esses novos preços. Segundo especialistas do Cepea, o mercado de derivados segue enfraquecido.
Pesquisadores do Cepea destacam que, em São Paulo, especificamente, estado caracterizado por ser comprador líquido, os preços subiram de forma mais expressiva. (…) No mercado de derivados, os valores seguem enfraquecidos, ainda influenciados pelas recentes desvalorizações da matéria-prima e pela menor demanda.
Essa declaração evidencia o desafio da cadeia produtiva. Enquanto o produtor se beneficia do fato de que o dólar se valoriza e dá suporte ao preço interno, a indústria precisa equilibrar o custo da matéria-prima com um consumo que pode estar retraído, espremendo suas margens. Essa dinâmica influencia o ritmo de compra dos moinhos e pode criar períodos de maior ou menor liquidez no mercado do grão.
Planejamento para navegar em um mercado volátil
O cenário atual reforça uma lição valiosa para o agronegócio: a importância da informação e do planejamento. Acompanhar as cotações, entender as tendências do câmbio e monitorar o clima em outras regiões produtoras do mundo são tarefas tão importantes quanto o manejo da lavoura.
A safra de 2025 caminha para o fim, mas as lições que ela deixa são o principal insumo para o planejamento do próximo ciclo. A relação entre o trigo e o dólar é um fator que veio para ficar, e saber navegar nessas águas, seja aproveitando as altas para vender melhor ou se protegendo dos custos elevados, é o que diferencia uma boa safra de um negócio realmente lucrativo. O mercado é dinâmico, mas um produtor bem informado está sempre um passo à frente.
AGRONEWS








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