Explosão de recuperações judiciais no agro acende alerta sobre crise silenciosa no campo
O número crescente de pedidos de recuperação judicial por parte de produtores rurais tem acendido um sinal de alerta no setor agropecuário brasileiro.

O número crescente de pedidos de recuperação judicial por parte de produtores rurais tem acendido um sinal de alerta no setor agropecuário brasileiro. Em 2024, o segmento liderou o ranking nacional de reestruturações judiciais, respondendo por mais de 40% dos novos processos protocolados. Em 2025, o movimento segue em alta, revelando não apenas dificuldades financeiras pontuais, mas uma crise estrutural silenciosa que se agrava.
Para o advogado Adriano Amaral Bedran, especialista no setor e CEO do Bedran Advogados, esse cenário é o reflexo jurídico de um colapso sistêmico: “O que está acontecendo no campo é mais do que uma dificuldade passageira. É o colapso de um modelo de financiamento ultrapassado, combinado com exposição cambial brutal e a ausência de políticas públicas eficazes.”
Câmbio, crédito e contratos de risco
A crescente dolarização das dívidas, o aumento dos custos dos insumos — majoritariamente importados — e o uso intensivo de contratos de barter (troca futura de produção por insumos) têm pressionado as margens dos produtores. A isso se somam fatores climáticos extremos e retração no crédito oficial, o que tem levado muitos empresários rurais a recorrer à Justiça como forma de preservar a atividade econômica.
“Recorrer à recuperação judicial não é sinônimo de falência. É, muitas vezes, a única alternativa para manter a atividade produtiva de pé”, afirma Bedran. Ele observa que o Judiciário tem avançado no reconhecimento do produtor como agente empresarial, aplicando com mais razoabilidade a Lei nº 11.101/2005 ao setor.
Outro ponto sensível é a insegurança jurídica em torno das propriedades rurais. Segundo Bedran, muitas fazendas produtivas operam com matrículas irregulares, sobreposições ou vícios dominiais, o que compromete garantias, bloqueia financiamentos e dificulta a adesão ao processo de recuperação.
“Mesmo propriedades economicamente viáveis podem ser surpreendidas por disputas possessórias, bloqueios ou averbações judiciais. Isso paralisa o acesso ao crédito e fragiliza juridicamente todo o processo de reestruturação”, alerta.
O agro pede socorro institucional
Longe de ser um mecanismo de oportunismo, a recuperação judicial no campo, segundo o advogado, deve ser vista como um instrumento legítimo de defesa econômica. “É um grito de socorro institucional. O produtor está buscando reorganização, não proteção para inadimplência proposital.”
Para Bedran, ignorar esse movimento é um erro estratégico.
“Criminalizar a recuperação judicial é covardia. E negligenciar a regularização fundiária é condenar o agro à paralisia. O produtor precisa de respaldo legal para continuar alimentando o Brasil e o mundo”, afirma.
Soberania alimentar em jogo
O artigo assinado por Bedran conclui com um alerta: tratar com descaso a crise no campo é comprometer a segurança alimentar do país.
“O agro é estratégico demais para ser deixado à própria sorte. A proteção jurídica ao produtor é também uma proteção à soberania nacional.”
Hits: 94
Comentários (0)
Comentários do Facebook