Safra mundial de trigo recorde pressiona preços

Preços seguem em queda, produção mundial deve ser recorde

Safra mundial de trigo recorde pressiona preços
Ilustrativa

O mercado do trigo vive um momento de grande atenção para o produtor. De um lado, a colheita nacional promete bons volumes e, de outro, o cenário internacional aponta para uma oferta gigantesca. Esse conjunto de fatores pressiona as cotações para baixo, exigindo uma análise cuidadosa na hora de negociar a safra.

Levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) confirma essa tendência de enfraquecimento, mostrando que a pressão vem tanto da oferta interna quanto das expectativas de uma produtividade global histórica. O cenário em que preços seguem em queda e a produção mundial deve ser recorde não é simples, mas compreendê-lo é o primeiro passo para traçar as melhores estratégias de comercialização e gestão da propriedade.

O que está por trás da queda nos preços do trigo?

Para o produtor que está no campo, a pergunta é direta: por que o valor do meu trigo está caindo? A resposta envolve uma combinação de fatores aqui dentro do Brasil e lá fora. Internamente, as boas perspectivas para a safra brasileira já aumentam a disponibilidade do produto no mercado. Quando a oferta é grande, a tendência natural é que os preços se ajustem para baixo, uma lei básica de mercado que o agricultor conhece bem. Os moinhos e demais compradores, cientes dessa maior disponibilidade, sentem-se mais confortáveis para negociar, exercendo pressão sobre os valores pagos ao produtor.

Além da nossa própria produção, um fator externo joga um peso significativo nessa balança: o dólar. Quando a moeda americana se desvaloriza frente ao real, os produtos importados ficam mais baratos para nós. No caso do trigo, isso significa que o cereal vindo de países vizinhos, principalmente da Argentina, chega ao Brasil com um preço mais competitivo. Essa concorrência direta força o produtor nacional a ter que disputar espaço com o trigo importado, o que acaba por pressionar ainda mais as cotações domésticas para baixo. É um jogo complexo onde o clima, a colheita e o câmbio ditam as regras.

Produção mundial recorde um oceano de trigo

Se a situação no Brasil já aponta para uma oferta robusta, o cenário global eleva essa percepção a outro patamar. Dados divulgados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), uma das principais referências para o agronegócio mundial, são impressionantes. A projeção para a safra 2025/26 é de um crescimento de 3,5%, atingindo um volume recorde de 828,89 milhões de toneladas de trigo. Para se ter uma ideia, esse volume seria suficiente para encher milhões de silos e armazéns ao redor do globo, garantindo um abastecimento farto para os principais mercados consumidores.

Olhando para o nosso vizinho e principal parceiro no Mercosul, a Argentina, as notícias seguem a mesma linha. A Bolsa de Cereales de Buenos Aires reajustou sua projeção de produção para 24 milhões de toneladas, um número também histórico para o país. Como o Brasil é um grande importador do trigo argentino, essa super safra do lado de lá significa que teremos acesso a um grande volume do produto a preços potencialmente menores. Este é o pilar da situação atual onde preços seguem em queda; produção mundial deve ser recorde, criando um ambiente de ampla oferta que influencia diretamente as decisões de compra e os preços em todo o mundo.

O dólar e a balança comercial do trigo

Vamos aprofundar um pouco mais a questão do câmbio, pois ela é fundamental para entender o preço na sua mão. A relação é simples: um dólar mais fraco torna a importação mais barata. Imagine que um moinho brasileiro precisa comprar 100 toneladas de trigo. Ele pode comprar do produtor nacional em reais ou do fornecedor argentino, pagando em dólares. Se o dólar cai, o custo em reais para comprar o trigo do vizinho diminui, tornando-o uma opção muito atraente. Essa dinâmica aumenta o poder de barganha do comprador, que pode usar o preço do importado como referência para negociar valores mais baixos pelo produto nacional.

Pesquisadores do Cepea ressaltam que esse cenário evidencia a ampla oferta externa e a possibilidade de o Brasil importar maiores volumes da Argentina, fatores que devem pesar sobre os preços mundiais e, consequentemente, nacionais.

Essa citação do Cepea deixa claro o impacto direto da combinação de câmbio e oferta externa. O comprador brasileiro tem mais opções na mesa, e essa competição entre o trigo nacional e o importado acaba por nivelar os preços por baixo. É um fator que foge ao controle do produtor, mas que precisa estar no radar na hora de planejar as vendas da safra.

Estratégias para o produtor em um cenário desafiador

Diante de um mercado com preços pressionados, ficar parado esperando uma melhora pode não ser a melhor opção. É hora de agir com estratégia e focar na gestão da propriedade para proteger as margens de lucro. A boa notícia é que existem diversas ferramentas e práticas que podem ajudar o produtor a navegar por este momento desafiador. Não se trata de encontrar uma solução mágica, mas de otimizar processos e tomar decisões bem informadas. O foco deve ser em aumentar a eficiência para que, mesmo com um preço menor por saca, o resultado final da lavoura continue positivo.

Aqui estão algumas ações práticas que podem ser consideradas no dia a dia da fazenda:

  • Gerenciamento de custos: Revise detalhadamente todos os custos de produção, desde os insumos até a mão de obra. Pequenas economias em cada etapa podem fazer uma grande diferença no resultado final;
  • Armazenagem estratégica: Se houver capacidade de armazenamento na propriedade, avalie a possibilidade de guardar parte da produção para vender em um momento mais favorável, acompanhando as tendências do mercado e os períodos de entressafra;
  • Negociação e contratos: Explore as ferramentas de mercado futuro para travar um preço de venda para parte da sua produção. Isso garante uma receita previsível e protege contra quedas ainda mais acentuadas;
  • Qualidade do grão: Invista em práticas que melhorem a qualidade do seu trigo. Grãos de melhor qualidade podem alcançar preços diferenciados e ter maior liquidez no mercado, especialmente junto a moinhos mais exigentes;
  • Busca por informação: Mantenha-se constantemente atualizado sobre as tendências de mercado, relatórios de safra (nacionais e internacionais) e variações do câmbio. Informação de qualidade é essencial para tomar as melhores decisões.

Este panorama de que preços seguem em queda enquanto a produção mundial deve ser recorde exige uma gestão ainda mais profissional e atenta. A diferença entre o lucro e o prejuízo pode estar nos detalhes da administração da sua lavoura e da sua estratégia de comercialização. Estar preparado para cenários como este é o que diferencia os produtores que conseguem prosperar a longo prazo, independentemente das oscilações do mercado.

Em resumo, o produtor de trigo enfrenta um cenário complexo, marcado por uma oferta abundante tanto no Brasil quanto no exterior. A combinação de uma safra mundial histórica, especialmente na Argentina, com um dólar menos valorizado, cria uma tempestade perfeita para a pressão sobre os preços. A conjuntura onde os preços seguem em queda e a produção mundial deve ser recorde reforça a necessidade de uma gestão eficiente, controle de custos rigoroso e estratégias de comercialização bem definidas.

AGRONEWS