Poder de compra do suinocultor frente ao farelo recua

O poder de compra frente ao farelo volta a cair e acende um alerta para o suinocultor

Poder de compra do suinocultor frente ao farelo recua
Ilustrativa

Depois de um setembro animador, que marcou a melhor relação de troca para o suinocultor paulista em 20 anos, o cenário começou a mudar. Os ventos que sopraram a favor agora trazem um desafio conhecido por quem vive da terra: o aumento no custo dos insumos.

Segundo dados recentes do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), o preço do farelo de soja, principal componente da ração dos suínos, vem subindo desde outubro. Essa alta impacta diretamente o bolso do produtor, diminuindo sua capacidade de adquirir o insumo essencial com a venda de seu produto final, o suíno vivo. A conta, que antes fechava com mais folga, agora exige mais atenção e um planejamento ainda mais rigoroso para manter a granja saudável e lucrativa.

Entendendo a balança: por que a relação suíno farelo é tão crucial?

Para quem não está familiarizado com o termo, a “relação de troca” é um termômetro fundamental para a saúde financeira da suinocultura. De forma simples, ela mede quantos quilos de um insumo, como o farelo de soja, o produtor consegue comprar com a venda de um quilo de suíno vivo. Quando essa relação é favorável, significa que o preço do suíno está valorizado em comparação ao custo da ração, garantindo uma margem de lucro maior. O inverso, que é o que observamos agora, aperta o cinto do produtor. A alimentação representa a maior fatia dos custos de produção, podendo chegar a mais de 70% do total, segundo estudos da Embrapa Suínos e Aves. Por isso, qualquer oscilação no preço do farelo de soja é sentida imediatamente na gestão do negócio.

Os fatores por trás da alta do farelo de soja

Mas, afinal, o que faz o preço do farelo subir? A resposta não está apenas na fazenda, mas em uma complexa rede de fatores globais e locais. O mercado de soja é influenciado pela demanda internacional, especialmente da China, que é um grande consumidor. Além disso, a safra nos principais países produtores, como Brasil e Estados Unidos, o comportamento do dólar frente ao real e os custos de logística, como frete e combustível, pesam na balança.

Condições climáticas adversas em regiões produtoras também podem reduzir a oferta e, consequentemente, elevar os preços. É um quebra-cabeça com muitas peças, e entender esse cenário ajuda o suinocultor a se antecipar aos movimentos do mercado, mesmo que não possa controlá-los.

O poder de compra frente ao farelo volta a cair na prática

Os números do Cepea para a região de Campinas (SP) ilustram bem essa virada. Em setembro, com a venda de um quilo de suíno vivo, era possível comprar 5,57 quilos de farelo. Em novembro, essa capacidade caiu para 5,13 quilos. Pode parecer uma diferença pequena, mas, na escala de uma produção comercial, o impacto é significativo. Essa situação em que o poder de compra frente ao farelo volta a cair se traduz em desafios concretos no dia a dia da granja. Na prática, isso significa que o produtor precisa:

  • Vender um volume maior de suínos para comprar a mesma quantidade de ração que adquiria meses antes;
  • Enfrentar um aperto no fluxo de caixa, o que pode dificultar o pagamento de outras despesas operacionais;
  • Adiar ou reavaliar investimentos em melhorias na infraestrutura ou em genética para o rebanho;
  • Ver a margem de lucro por animal diminuir, exigindo uma gestão de custos ainda mais eficiente para fechar as contas no azul.

Cenário futuro e estratégias para o suinocultor

Diante de um cenário em que o poder de compra frente ao farelo volta a cair, a palavra de ordem é eficiência. O produtor precisa focar em otimizar seus processos para mitigar os impactos do custo elevado da alimentação. Isso envolve um manejo nutricional preciso, buscando o máximo aproveitamento da ração e evitando desperdícios. Acompanhar de perto os índices zootécnicos, como a conversão alimentar, torna-se ainda mais vital.

Segundo especialistas do setor, em momentos de margens apertadas, a gestão profissional da propriedade deixa de ser um diferencial e se torna uma condição essencial para a sustentabilidade da atividade. O foco deve ser na redução de custos por meio da tecnologia e do manejo aprimorado.

O Brasil como protagonista no mercado global

Essa dinâmica entre o custo da ração e o preço do animal vivo não é apenas um desafio local; ela reflete a posição do Brasil como uma potência no agronegócio mundial. Somos, ao mesmo tempo, um dos maiores produtores e exportadores de soja e um dos líderes globais na produção de carne suína. De acordo com o MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária), o país atende tanto um robusto mercado interno quanto dezenas de países com sua proteína animal. Essa dupla relevância faz com que as oscilações nesses mercados tenham um efeito cascata em toda a cadeia produtiva, influenciando a economia, a geração de empregos e a segurança alimentar em escala global. A volatilidade é uma característica inerente a esses mercados de commodities, e o produtor brasileiro aprendeu a navegar nessas águas.

O momento atual, portanto, exige cautela e uma gestão apurada por parte dos suinocultores. A queda no poder de compra, evidenciada pela relação de troca com o farelo de soja, reforça a importância de um planejamento financeiro sólido e da busca contínua por eficiência produtiva. A capacidade de se adaptar rapidamente às mudanças do mercado e de otimizar os recursos disponíveis será, mais uma vez, o fator que diferencia as operações bem-sucedidas. 

AGRONEWS