Novas ferrovias no Centro-Oeste atraem R$ 3 bilhões e redesenham logística do agro

Projetos da Eldorado Brasil e da Rumo, com apoio do BNDES, ampliam capacidade de escoamento de celulose e grãos e reduzem custos logísticos

Novas ferrovias no Centro-Oeste atraem R$ 3 bilhões e redesenham logística do agro
Ilustrativa

Obras da Ferrovia Estadual de Mato Grosso (FMT)

Projetos distintos de expansão ferroviária no Centro-Oeste vão receber cerca de R$ 3 bilhões em aportes aprovados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Os aportes têm foco na redução de custos logísticos, aumento da competitividade do agronegócio e avanço da agenda de sustentabilidade. 

As iniciativas envolvem investimentos da Eldorado Brasil Celulose, em Mato Grosso do Sul, e da Rumo, em Mato Grosso, e reforçam o papel do modal ferroviário no escoamento da produção agroindustrial da região.

Eldorado recebe R$ 1 bilhão para ferrovia da celulose em Mato Grosso do Sul

O BNDES aprovou apoio no valor total de R$ 1,05 bilhão para a Eldorado Brasil Celulose S.A. construir uma nova ferrovia com 86,7 quilômetros de extensão entre Três Lagoas (MS) e o terminal da companhia em Aparecida do Taboado (MS), destinada ao escoamento da produção de celulose.

Trata-se do primeiro projeto viabilizado sob o regime de autorização ferroviária.

Durante a implantação do projeto, a estimativa é de geração de mais de 3 mil empregos diretos e indiretos.

O apoio do banco ocorre por meio da subscrição de R$ 1 bilhão em debêntures de infraestrutura, com emissão coordenada pela própria instituição, além de um financiamento adicional de R$ 50 milhões via linha Finem.

A operação marca a primeira oferta de debêntures realizada no mercado local no âmbito da Lei 14.801, de 9 de janeiro de 2024, que criou as debêntures de infraestrutura com benefício tributário alocado aos emissores dos títulos. O papel traz ainda uma inovação adicional: remuneração atrelada a cláusula de variação cambial, possibilidade também prevista na nova legislação.

“O projeto apoiado vai reduzir os custos logísticos e aumentar a competitividade da celulose brasileira, num setor em que o país é um dos maiores produtores do mundo, com cerca de 24,3 milhões de toneladas por ano, atrás apenas dos Estados Unidos e da China”, afirmou o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.

Segundo o banco, o transporte ferroviário permitirá reduzir em 87,3% as emissões de CO₂ por ano, o equivalente a cerca de 105,3 mil toneladas, em comparação ao transporte rodoviário, que atualmente demanda cerca de 50 mil caminhões por ano.

A nova ferrovia interligará a fábrica da Eldorado, em Três Lagoas, ao terminal da empresa em Aparecida do Taboado, conectado às malhas da Rumo, principal corredor logístico entre Rondonópolis (MT) e o Porto de Santos (SP).

A companhia também conta com terminal portuário próprio em Santos, inaugurado em 2023, com capacidade para exportar até 3 milhões de toneladas de celulose por ano.

Rumo recebe R$ 2 bilhões para avançar ferrovia em Mato Grosso

Em outro projeto, o BNDES aprovou apoio no valor de R$ 2 bilhões para a Rumo S.A. concluir a primeira etapa da Ferrovia Estadual de Mato Grosso (FMT), no trecho entre Rondonópolis (MT) e o terminal da BR-070, em Dom Aquino (MT), com extensão de 162 quilômetros.

As obras têm previsão de conclusão no segundo semestre de 2026.

O apoio será realizado por meio da subscrição integral de debêntures da emissão, coordenada pelo próprio banco. 

O projeto completo da FMT prevê a implantação de cerca de 743 quilômetros de trilhos, divididos em cinco fases, para interligar Rondonópolis a Lucas do Rio Verde, com a inclusão de um ramal para Cuiabá. A execução total das obras deve gerar cerca de 114 mil empregos.

A ferrovia tem como objetivo ampliar a capacidade de escoamento da produção agroindustrial de Mato Grosso, especialmente soja e milho, integrando os modais rodoviário e ferroviário.

O novo terminal próximo à BR-070 terá capacidade para movimentar até 10 milhões de toneladas de grãos por ano e também deve ser concluído no segundo semestre de 2026.

“Essa ferrovia representa um avanço significativo para o escoamento da produção agrícola de Mato Grosso, com redução de custos logísticos, aumento da competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional e alívio na sobrecarga das rodovias”, afirmou Aloizio Mercadante.

Para a Rumo, o projeto reforça a estratégia de longo prazo da companhia.

“O investimento na expansão ferroviária com perspectiva de longo prazo é uma forte alavanca de competitividade e sustentabilidade para o agronegócio e para a economia nacional”, disse Natália Marcassa, vice-presidente da empresa.

Expansão ferroviária ganha força no país

A malha ferroviária brasileira, atualmente com cerca de 30 mil quilômetros, está em processo de expansão e modernização, com mais de 12 mil quilômetros de novos trilhos autorizados ou em andamento em diferentes regiões.

Até 2026, o Governo Federal prevê investimentos de R$ 94,2 bilhões em obras como a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico) e a Transnordestina.

Em 2024, segundo a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), o transporte ferroviário de carga geral atingiu recorde de 150 milhões de toneladas úteis, enquanto o volume total, incluindo minério de ferro, chegou a 540 milhões de toneladas úteis, alta de 1,83% em relação a 2023. Entre as cargas gerais, destacaram-se os avanços no transporte de celulose, açúcar e contêineres.