Grécia: surto de doença em rebanhos ameaça a produção e o futuro queijo feta
Surto de doenças em rebanhos na Grécia leva a abates em massa e ameaça a produção de queijo feta, ícone gastronômico do país.
Um grave surto de doenças infecciosas está dizimando rebanhos de ovelhas e cabras em diversas regiões da Grécia, forçando um abate sanitário em massa que coloca em risco a produção de um dos produtos mais icônicos do país: o queijo feta.
A medida, implementada por autoridades veterinárias para conter a disseminação dos patógenos, gera apreensão entre produtores e consumidores sobre uma possível escassez e aumento de preços no mercado global.
A crise sanitária afeta principalmente a região da Tessália, no centro do país, uma área vital para a pecuária grega que já havia sido severamente impactada por inundações devastadoras no ano passado. Agricultores locais relatam perdas irreparáveis, com milhares de animais sendo sacrificados, o que compromete não apenas a subsistência de inúmeras famílias, mas também a cadeia de suprimentos de leite essencial para a fabricação do queijo.
O queijo feta possui Denominação de Origem Protegida (DOP), o que significa que, para ser considerado autêntico, deve ser produzido na Grécia seguindo regras estritas, incluindo o uso de leite de raças específicas de ovelhas e cabras locais. Com a redução drástica dos rebanhos, a capacidade de cumprir essas exigências fica diretamente ameaçada.
As doenças por trás da crise sanitária
As autoridades sanitárias identificaram dois principais agentes infecciosos responsáveis pela crise atual: a febre catarral ovina, também conhecida como doença da língua azul, e a brucelose. A doença da língua azul é viral e transmitida por insetos, causando febre alta, inchaço da face e da língua, e frequentemente levando à morte dos animais infectados. Embora não afete humanos, sua alta taxa de mortalidade e rápida disseminação representam uma ameaça econômica severa para a pecuária.
Por outro lado, a brucelose é uma infecção bacteriana que, além de provocar abortos em ovelhas e cabras, reduzindo a produtividade, também pode ser transmitida aos seres humanos através do consumo de laticínios não pasteurizados, causando uma doença debilitante conhecida como febre de Malta. A presença dessa zoonose exige medidas de controle ainda mais rigorosas, incluindo o abate de rebanhos inteiros para erradicar o foco da infecção e proteger a saúde pública.
Escala do abate e as regiões mais afetadas
O abate sanitário está sendo conduzido em larga escala, com estimativas indicando que dezenas de milhares de animais já foram ou serão sacrificados nas próximas semanas. A Tessália é o epicentro da crise, onde a combinação de surtos sanitários e a recuperação lenta das enchentes de 2023 criou um cenário desolador para os produtores.
Criadores de gado da região descrevem a situação como a pior crise em décadas. Muitos perderam todo o seu rebanho, que representava o trabalho e o investimento de gerações.
O governo grego iniciou programas de vacinação para tentar controlar a propagação da doença da língua azul e intensificou a vigilância para detectar novos casos de brucelose. No entanto, a logística de contenção em áreas rurais e a resistência de alguns patógenos tornam o controle da situação um desafio complexo para as autoridades veterinárias.
Consequências diretas para os produtores
Para os pecuaristas gregos, o impacto financeiro é devastador e imediato. A perda de rebanhos significa a interrupção total da produção de leite, carne e lã, que são as principais fontes de renda para milhares de famílias no campo. Embora o governo ofereça compensações financeiras pelos animais abatidos, muitos agricultores afirmam que os valores são insuficientes para cobrir o custo real da perda, que inclui o valor genético dos animais e os anos de trabalho dedicados à criação.

Além disso, a reposição dos rebanhos é um processo lento e caro, que pode levar anos, deixando os produtores em um estado de incerteza econômica prolongada e com dívidas acumuladas. A crise também gera um forte abalo emocional, com muitos vendo o trabalho de uma vida inteira desaparecer subitamente.
O futuro incerto do queijo feta
A ameaça à produção de queijo feta é real e multifacetada. A redução na oferta de leite de ovelha e cabra, matérias-primas indispensáveis, inevitavelmente pressionará os custos de produção para cima.
Essa alta nos custos deve ser repassada aos consumidores, resultando em preços mais elevados tanto no mercado interno quanto nas exportações. O queijo feta é um dos principais produtos de exportação da Grécia, e uma crise na sua produção pode ter repercussões na balança comercial do país.
Especialistas do setor de laticínios alertam que, se a crise não for contida rapidamente, os consumidores poderão enfrentar uma escassez do produto autêntico nas prateleiras dos supermercados em todo o mundo nos próximos meses.
Estratégias de contenção e vacinação
O governo grego, em conjunto com as autoridades veterinárias da União Europeia, está implementando um plano de ação para conter os surtos. As principais frentes de atuação incluem a aceleração das campanhas de vacinação contra a doença da língua azul e a testagem rigorosa para brucelose.
Além disso, foram estabelecidas zonas de restrição de movimento de animais nas áreas afetadas para evitar que a doença se espalhe para outras regiões do país, protegendo os rebanhos que ainda não foram atingidos.
Um símbolo cultural em risco
Mais do que um produto comercial, o queijo feta é um pilar da gastronomia e da cultura grega. Sua possível escassez não representa apenas uma perda econômica, mas também um golpe em uma tradição milenar que faz parte da identidade nacional da Grécia.
As informações são do Mix Vale, adaptadas pela equipe MilkPoint.








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