Armazenagem de grãos: Brasil corre risco de estagnação

A armazenagem de grãos em solo brasileiro enfrenta um gargalo que ameaça seu potencial de crescimento, um dilema antigo que se agrava com a expansão da produção agrícola.

Armazenagem de grãos: Brasil corre risco de estagnação
Ilustrativa

A capacidade de armazenar eficientemente os alimentos colhidos é tão crucial quanto a própria produção, determinando a rentabilidade do produtor, a segurança alimentar do país e a competitividade do agronegócio brasileiro no cenário internacional. Contudo, a infraestrutura de armazenagem, um dos pilares fundamentais para a sustentabilidade e o desenvolvimento do setor, mostra-se insuficiente para acompanhar o ritmo acelerado de aumento na produção, colocando o país em risco de estagnação se medidas eficazes não forem implementadas com urgência.

O Cenário Atual da Armazenagem de Grãos no Brasil

O Brasil tem se consolidado como uma potência agrícola global, batendo recordes de produção em diversas culturas, com destaque para a soja, o milho e o arroz. Essa expansão, contudo, tem sido acompanhada por um déficit significativo na capacidade de armazenagem. Dados recentes indicam que a capacidade estática nacional, somando as instalações nos estabelecimentos rurais e as unidades armazenadoras de terceiros, ainda está aquém do volume produzido anualmente. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a defasagem na capacidade de armazenamento tem sido uma preocupação constante.

Essa situação gera uma série de impactos negativos diretos no campo. Sem espaço adequado, muitos produtores são forçados a vender sua produção imediatamente após a colheita, muitas vezes a preços menos vantajosos devido à saturação do mercado e à necessidade de escoamento rápido. Isso limita a capacidade do agricultor de esperar por melhores condições de negociação ou de aproveitar janelas de oportunidade no mercado internacional. A perda de grãos por deterioração, devido a condições inadequadas de armazenamento, também representa um prejuízo econômico considerável e um desperdício de alimentos.

As Consequências da Defasagem na Infraestrutura

A falta de estrutura adequada para a armazenagem de grãos no Brasil se traduz em vulnerabilidades significativas para toda a cadeia produtiva. Um dos efeitos mais imediatos é a pressão sobre os preços na época da safra. Quando a oferta de espaço de armazenamento é escassa, o poder de barganha do produtor diminui drasticamente, pois ele precisa liberar seu espaço de produção para novas culturas ou simplesmente não tem onde guardar seu excedente. Isso, em última instância, afeta a rentabilidade do negócio rural.

Além do aspecto econômico, a armazenagem inadequada pode comprometer a qualidade dos grãos. Fatores como umidade, temperatura, ventilação e controle de pragas são cruciais para a conservação do produto. Instalações improvisadas ou em más condições podem levar à proliferação de fungos, insetos e à deterioração geral do grão, tornando-o impróprio para consumo humano ou animal, e consequentemente, desvalorizando-o no mercado. Em situações extremas, perdas totais podem ocorrer.

A dependência de estruturas de terceiros, como armazéns de cooperativas ou operadores logísticos, também gera custos adicionais, como fretes mais longos e taxas de armazenagem, que impactam a margem de lucro do produtor. Essa dependência, aliada à escassez, pode criar gargalos logísticos que dificultam o escoamento da produção, especialmente em anos de safras recordes.

Investimento e Tecnologia: Caminhos para a Solução

Para reverter o quadro de risco de estagnação na armazenagem de grãos, o Brasil precisa de um impulso significativo em investimento e tecnologia. O aprimoramento da infraestrutura passa não apenas pela ampliação da capacidade estática, mas também pela modernização das instalações existentes. A introdução de novas tecnologias de secagem, aeração e controle de temperatura e umidade pode garantir a preservação da qualidade dos grãos por mais tempo, reduzindo perdas e agregando valor.

O papel das cooperativas agrícolas é fundamental nesse contexto. Ao fortalecerem suas estruturas de recebimento e armazenagem, elas podem oferecer melhores condições aos seus associados, diluindo custos e aumentando o poder de negociação coletivo. Além disso, o incentivo à construção de armazéns dentro das propriedades rurais, com linhas de crédito acessíveis e desburocratizadas, é uma medida essencial para empoderar o produtor individual.

A pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas à armazenagem também são cruciais. A Embrapa, por exemplo, tem trabalhado em diversas frentes, como o desenvolvimento de sistemas de monitoramento remoto da qualidade dos grãos e soluções para o controle de pragas sem o uso intensivo de defensivos químicos. Essas inovações são vitais para garantir a sustentabilidade e a eficiência do setor.

Políticas Públicas e o Papel do Governo

O governo tem um papel preponderante na articulação de políticas públicas que incentivem o investimento em armazenagem. Linhas de crédito com taxas de juros atrativas e prazos adequados, como as oferecidas pelo Plano Safra, são ferramentas importantes para viabilizar a construção e a modernização de armazéns. É necessário, contudo, que esses programas sejam amplamente divulgados e de fácil acesso para todos os portes de produtores.

A simplificação da legislação e a redução da burocracia para a instalação de novas unidades armazenadoras também são medidas apontadas por especialistas como essenciais para destravar investimentos. Regulamentações claras e eficientes podem atrair capital privado e facilitar a expansão da infraestrutura necessária.

A articulação entre o setor público e privado é a chave para superar os desafios da armazenagem de grãos. Parcerias que visem a expansão da capacidade, a modernização tecnológica e a otimização da logística podem garantir que o Brasil continue a expandir sua produção agrícola sem esbarrar nas limitações da infraestrutura de armazenamento. Um exemplo de ação governamental relevante é o investimento em infraestrutura logística de forma geral, que impacta diretamente o fluxo de grãos.

Armazenagem de Grãos: Um Olhar para o Futuro

A armazenagem de grãos é um componente inegociável para a consolidação do Brasil como um líder mundial no agronegócio. Ignorar a necessidade de investimento e modernização nesse setor é arriscar o futuro de toda uma cadeia produtiva que é vital para a economia brasileira. A falta de capacidade de armazenagem não é apenas um problema logístico, mas um entrave ao desenvolvimento sustentável e à competitividade do país.

As estatísticas sobre a produção agrícola brasileira, que não para de crescer, contrastam fortemente com a lentidão na expansão da infraestrutura de armazenamento. Essa discrepância exige atenção imediata e ações coordenadas. Produtores, cooperativas, agroindústrias e o poder público precisam trabalhar em conjunto para encontrar soluções inovadoras e eficazes. O fortalecimento da armazenagem de grãos garantirá não apenas a rentabilidade do campo, mas também a segurança alimentar e o papel do Brasil como um grande provedor de alimentos para o mundo.

AGRONEWS