Consumo de café despenca no mercado interno, enquanto exportações disparam
Alta de preços derruba vendas no varejo brasileiro

O consumo de café no Brasil registrou uma queda expressiva no primeiro quadrimestre de 2025, enquanto as exportações da bebida seguem em ritmo recorde.
Segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o país embarcou 39,994 milhões de sacas entre julho de 2024 e abril de 2025 — o maior volume da série histórica para o período.
Na contramão do mercado externo aquecido, as vendas internas recuaram 15,96% em abril, na comparação com o mesmo mês de 2024, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) divulgados nesta quinta-feira (22). Foi a queda mensal mais acentuada dos últimos anos.
Com isso, o consumo acumulado no varejo — responsável por até 78% da demanda interna — caiu 5,13% no primeiro quadrimestre, passando de 5,01 milhões para 4,75 milhões de sacas vendidas.
O movimento de queda teve início em março (-4,87%), após crescimentos discretos em janeiro (+1,26%) e fevereiro (+0,89%).
Preços altos pressionam o consumo e mudam hábito do brasileiro
A retração é reflexo direto da escalada dos preços. O café moído acumula inflação de 80,2% nos 12 meses até abril, segundo o IPCA — a maior alta já registrada para o produto desde o Plano Real.
Dados da Abic apontam que, em abril, o preço médio por quilo variou de R$ 65,50, no café tradicional/extraforte, a R$ 402,33, no caso das cápsulas.
O café solúvel lidera os reajustes, com alta de 85% frente a abril de 2024, seguido pelas versões gourmet (+56%) e tradicional/extraforte (+50%).
Apesar da retração nas vendas da indústria, o consumo direto ao consumidor segue relativamente estável. Segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), as vendas do varejo ao consumidor final cresceram 3,6% no primeiro trimestre de 2025, em relação ao mesmo período do ano passado.
Para Pavel Cardoso, presidente da Abic, o consumidor brasileiro tem se adaptado. “O consumo segue firme, mas com adaptações. Há mudança de marcas, formatos e até volume, mas o café permanece na cesta alimentar”, afirmou para a Folha de S.Paulo.
Exportações batem recorde, mas mercado interno sente impacto da colheita
Apesar da leve desaceleração em abril, as exportações acumuladas de café alcançam quase 40 milhões de sacas nesta safra, consolidando o Brasil como protagonista no comércio global da bebida.
O desempenho é impulsionado pela demanda consistente de grandes mercados consumidores e pela valorização externa do produto.
No mercado doméstico, os preços do café robusta vêm cedendo com mais força em maio, pressionados pelo avanço da colheita.
Segundo o Cepea, o Indicador Cepea/Esalq do tipo 6, peneira 13 acima, a retirar no Espírito Santo, registrou queda de 10,5% na primeira quinzena do mês.
Já o arábica, embora também em queda, apresenta desvalorização mais amena, reflexo do ritmo lento da colheita e dos estoques reduzidos.
O Indicador Cepea/Esalq do tipo 6, bebida dura para melhor, posto na capital paulista, acumulou baixa de 4,6% no mesmo período.
O setor agora observa com atenção o comportamento do consumidor e a evolução da colheita nos próximos meses, em busca de equilíbrio entre oferta, preço e manutenção do hábito nacional de tomar café.
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