Exportadores de café amargam prejuízo bilionário com gargalos logísticos nos portos brasileiros
Apesar da entressafra dos principais produtos embarcados em contêineres, os portos brasileiros seguem operando com lentidão, impactando duramente as exportações de café.

Apesar da entressafra dos principais produtos embarcados em contêineres, os portos brasileiros seguem operando com lentidão, impactando duramente as exportações de café. Segundo dados atualizados pelo Cecafé, mais de 730 mil sacas de 60 kg deixaram de ser embarcadas em abril, o que representa a paralisação de 2.236 contêineres e perdas superiores a R$ 6,6 milhões para as empresas exportadoras.
Desde junho de 2024, os custos extras acumulados — que incluem armazenagem, detentions, pré-stacking e antecipação de gates — já somam mais de R$ 73 milhões. No entanto, o impacto mais pesado está no câmbio: a não exportação das sacas em abril impediu a entrada de quase US$ 329 milhões no país, o equivalente a R$ 1,9 bilhão, considerando o preço médio FOB do mês.
O problema tem raízes estruturais. Mesmo com o anúncio de projetos como o leilão do Tecon Santos 10, a concessão do canal marítimo do Porto de Santos e a terceira pista da Anchieta, o diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron, alerta para a lentidão dos processos e o risco de judicializações.
“Essas obras demoram pelo menos cinco anos. E a tentativa de restringir a participação de armadores no leilão do Tecon Santos 10 é um entrave que pode atrasar ainda mais a solução. Precisamos de capacidade emergencial, sem burocracias e com ampla concorrência”, afirma.
Prejuízo também atinge o campo
O problema logístico não se limita à indústria exportadora. Heron lembra que o Brasil é o país que mais repassa o valor FOB aos produtores: 88,3% no caso do arábica e 96,5% no conilon. Quando o café não embarca, quem planta também deixa de ganhar.
Com o Porto de Santos respondendo por quase 80% das exportações de café no primeiro quadrimestre de 2025, os atrasos são um gargalo crônico. Em abril, 99 dos 171 navios enfrentaram atrasos ou alterações de escala, e a espera mais longa chegou a 31 dias. No Rio de Janeiro, o segundo principal ponto de escoamento (16% dos embarques), 67% dos navios também sofreram alterações.
A média de tempo de gate aberto nos dois portos também foi insuficiente para garantir a fluidez das operações. Em Santos, apenas 7% dos navios tiveram prazo superior a quatro dias para carregamento; no Rio, foram 18%.
A logística emperrada já compromete a competitividade do setor e ameaça os resultados da balança comercial. O Cecafé vem atuando junto a autoridades portuárias, Ministério de Portos e Aeroportos e à ANTAQ, apresentando dados concretos para embasar medidas urgentes.
“A estrutura atual está no limite. Se não houver agilidade na ampliação da capacidade e na modernização da gestão portuária, os prejuízos ao agronegócio serão cada vez maiores — tanto para exportadores quanto para produtores”, conclui Heron.
Com o mundo demandando café brasileiro, a ineficiência logística interna se torna uma trava ao crescimento. Em pleno período de baixa oferta, o escoamento travado é sinal de alerta para o que pode ocorrer quando a nova safra começar a sair do campo.
Com informações da Cecafé
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