Chuvas trazem alívio mas safra de citros pede mais água

Chuvas ajudam, mas ainda é necessário maior volume para uma boa produção

Chuvas trazem alívio mas safra de citros pede mais água
Ilustrativa

As chuvas que retornaram em outubro trouxeram um suspiro de alívio para os citricultores do cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro. Após um inverno seco e de muita apreensão, a umidade no solo é um sinal de esperança, especialmente para a preparação das plantas para as floradas da próxima temporada. No entanto, o sentimento no campo é de otimismo cauteloso. A água que caiu foi bem-vinda e essencial, mas o déficit hídrico acumulado ao longo dos meses ainda é uma grande preocupação. A verdade é que a safra de laranja, um dos pilares do agronegócio brasileiro e que nos posiciona como líderes mundiais na produção de suco, depende crucialmente do regime de chuvas das próximas semanas.

O cenário atual mostra que as precipitações recentes são um bom começo, mas a jornada para garantir o potencial produtivo da safra 2025/26 está longe de terminar.

Pomares em alerta: o balanço hídrico da citricultura

Quem anda pelo campo percebe rapidamente que a situação não é a mesma em todas as propriedades. Conforme aponta o levantamento do Cepea, as condições das lavouras são bastante heterogêneas. Isso acontece porque o volume de chuvas e a intensidade do período de seca variaram muito entre as diferentes microrregiões produtoras.

Enquanto algumas áreas receberam um volume mais generoso, capaz de umedecer o solo em maior profundidade, outras ainda sofrem com a terra seca e plantas estressadas. Essa irregularidade climática cria um mosaico de realidades, onde vizinhos podem estar enfrentando desafios completamente distintos. O momento é crítico, pois as árvores precisam de reservas hídricas para sustentar a florada e o pegamento dos frutos. Infelizmente, em muitos locais, as chuvas ajudam, mas ainda é necessário maior volume para uma boa produção, pois o solo ainda não recuperou sua capacidade ideal de armazenamento de água.

Da flor ao fruto: como a água define o potencial da safra

Para entender a preocupação do produtor, é preciso olhar para o ciclo da laranjeira. A água é o principal motor para os processos fisiológicos da planta, especialmente nesta fase. A falta de umidade adequada no solo durante a pré-florada e a florada pode causar um estresse hídrico severo, com consequências diretas e, muitas vezes, irreversíveis para a produção.

As plantas, em um mecanismo de defesa, tendem a abortar flores e frutos recém-formados para economizar energia e água, resultando em uma queda acentuada que impacta diretamente o volume final da colheita. Fica claro que, embora as chuvas ajudem, mas ainda é necessário maior volume para uma boa produção para garantir que os frutos que vingarem tenham um bom desenvolvimento. Um período prolongado de estresse pode causar:

  • Queda acentuada de flores e frutos recém-formados, conhecidos como “chumbinhos”.
  • Desenvolvimento de frutas com menor calibre (tamanho), o que afeta tanto o mercado de mesa quanto o rendimento industrial.
  • Redução no teor de suco por caixa, um fator crucial para a indústria processadora.
  • Atraso na maturação dos frutos que conseguem se desenvolver na planta.

Essa relação direta entre água e produtividade mostra por que cada milímetro de chuva é comemorado, mas a regularidade e o volume total são o que realmente definem o sucesso da safra.

O termômetro do mercado: preços e a preocupação da indústria

Essa incerteza no campo se reflete diretamente nos preços e nas negociações. O recente levantamento do Cepea indica uma leve baixa para a laranja pera destinada à indústria, negociada a R$ 50,05 por caixa de 40,8 kg, enquanto a laranja de mesa teve uma pequena alta, chegando a R$ 61,74 por caixa. Essa diferença mostra as distintas dinâmicas de cada mercado. A indústria, que processa um volume gigantesco, está especialmente atenta à oferta. A preocupação com a queda de frutos pode limitar o volume total da safra, pressionando a oferta de matéria-prima. Como o Cepea aponta:

Pesquisadores afirmam que o momento é de boa oferta das frutas de meia estação, bastante esperadas para a indústria de suco, mas agentes seguem preocupados com a queda, o que pode limitar o volume total da safra.

Muitas negociações estão ocorrendo no mercado spot (de entrega imediata), com poucos contratos futuros sendo fechados, o que demonstra a cautela de ambos os lados, produtores e indústrias. Todos estão de olho no céu e nos próximos relatórios de estimativa de safra.

Estratégias de manejo para atravessar o desafio climático

Enquanto não é possível controlar o clima, o produtor pode e deve adotar práticas de manejo que ajudem as plantas a atravessar este período desafiador com mais resiliência. A gestão inteligente da propriedade faz toda a diferença. Investir em técnicas que otimizem o uso da água e preservem a umidade do solo não é mais uma opção, mas uma necessidade. Para quem possui sistemas de irrigação, o manejo preciso, evitando desperdícios, é fundamental. Para os pomares de sequeiro, práticas conservacionistas são a chave. Essas estratégias são cruciais, pois as chuvas ajudam, mas ainda é necessário maior volume para uma boa produção, e cada gota conta. Informações técnicas sobre as melhores práticas podem ser encontradas em fontes confiáveis como a Embrapa, que oferece guias sobre o manejo hídrico na citricultura. O foco é fortalecer a planta para que ela possa enfrentar melhor o estresse e aproveitar ao máximo a água disponível.

O cenário da citricultura brasileira para a safra 2025/26 é de uma expectativa contida. As chuvas de outubro foram um alento, um sinal positivo que renovou as esperanças, mas o caminho para uma colheita farta ainda depende de um regime de chuvas mais consistente nos próximos meses. A situação atual reforça a máxima de que no agronegócio, o planejamento e a gestão caminham lado a lado com um olhar atento ao clima.

Para o citricultor, o momento é de continuar o trabalho cuidadoso no campo, monitorar o desenvolvimento dos pomares e acompanhar de perto as informações de mercado e as previsões meteorológicas. A verdade no campo é que as chuvas ajudam, mas ainda é necessário maior volume para uma boa produção, e essa realidade ditará os rumos do setor nos próximos meses.

AGRONEWS