Pesquisa descobre nova espécie de cigarrinha-da-raiz que ameaça lavouras de cana
Estima-se que uma infestação possa causar prejuízos de até 36 toneladas por alqueire; uso de controle biológico com fungos é tido como promissor
Uma nova espécie de cigarrinha-da-raiz, batizada de Mahanarva diakantha, já está presente em lavouras de cana-de-açúcar em diferentes regiões do país. O inseto tem coloração marrom-avermelhada e se alimenta da seiva da cana, liberando toxinas que queimam as folhas e prejudicam a sacarose.
A descoberta, que levou dez anos para acontecer, foi feita após estudo de pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), do campus de Rio Claro (SP), e da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre
Os resultados, publicados no Bulletin of Entomological Research, da Universidade de Cambridge, respondem a um problema antigo: a perda de eficácia dos defensivos usados contra pragas que atacam a cultura.
Historicamente, as pragas conhecidas que atacam a cana eram outras duas espécies de cigarrinhas-da-raiz: Mahanarva fimbriolata e Mahanarva spectabilis.
Porém, relatos de produtores de que os métodos de controle não vinham apresentando resultado motivaram a coleta de amostras por várias usinas, que foram encaminhadas aos cientistas.
A partir da combinação de análise genética e exame morfológico, em especial inspeção da genitália dos machos, os pesquisadores confirmaram tratar-se de uma espécie diferente. A característica anatômica inédita inspirou o nome diakantha, que significa “dois espinhos”.
O que muda para a cana
A identificação da M. diakantha traz à luz um fator possivelmente decisivo para explicar falhas recentes no controle de cigarrinhas-da-raiz: pode ser que as técnicas e defensivos utilizados estivessem calibrados para espécies antigas, agora insuficientes para atacar essa nova variante.
Isso significa que lavouras consideradas “imunes” ou em manutenção podem, na verdade, estar vulneráveis, fato que exige atenção imediata do setor sucroalcooleiro.

Para lidar com esse novo cenário, os pesquisadores, muitos ligados ao centro de fitossanidade da UNESP/PUC-RS, defendem a realização de estudos aprofundados, como o mapeamento da distribuição geográfica da espécie, suas taxas de reprodução, comportamento adaptativo e sensibilidade a defensivos ou controles biológicos.
O uso de controle biológico com fungos derivados de grãos de arroz, prática já consagrada contra cigarrinhas, é considerado promissor, mas precisa ser reavaliado para garantir eficácia também contra a M. diakantha.
Para produtores de cana, usinas e todos os elos da cadeia do açúcar e etanol, isso representa um alerta para reforçar práticas de monitoramento de lavouras, amostragem de pragas, adequação de manejos e possível revisão de protocolos de controle.
Estima-se que uma infestação possa causar prejuízos de até 36 toneladas por alqueire.








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