PCC estaria entre os maiores proprietários de terra no Brasil

Facção teve mais de 511 mil hectares de fazendas bloqueadas pela Justiça desde 2006

PCC estaria entre os maiores proprietários de terra no Brasil
Ilustrativa

Mais de 511 mil hectares de terras já foram bloqueados pela Justiça desde 2006 em todo o país por suspeita de ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC).

O número, obtido por meio de levantamento inédito realizado com base em decisões judiciais e reportagens de mais de 25 veículos de imprensa, colocaria a facção entre os maiores "proprietários" de terras do Brasil.

A facção criminosa estaria atrás apenas de gigantes como a SLC Agrícola e Grupo Bom Futuro, figurando no top 3 de maiores proprietários caso houvesse permanecido controlando tal extensão.

A pesquisa foi conduzida com base em dados públicos de tribunais estaduais e federais nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Pará, onde se concentra a maior parte dos bloqueios.

O cruzamento incluiu também investigações conduzidas pela Polícia Federal, como a que revelou que o traficante Luiz Carlos da Rocha, o “Cabeça Branca”, chegou a acumular 16 fazendas em áreas contínuas entre MT e PA, totalizando 40 mil hectares.

Apesar não integrar o PCC, ele foi apontado por órgãos de segurança pública por comercializar grandes quantidades de entorpecentes com o grupo crimonoso.

Somadas às 85 fazendas bloqueadas no MS em 2008 (368 mil ha) e a uma propriedade única de 140 mil ha apreendida de uma facção ligada ao PCC no norte do MT, o número impressiona.

Vale frisar que os 511 mil hectares foram bloqueados pela Justiça, mas dado o crescimento da facção nos últimos anos, o volume ainda não localizado pelas forças públicas poderia ser ainda maior.

Poderio econômico 

Estimativas da Polícia Federal e do Coaf apontam que o PCC movimenta entre R$ 2 bilhões e R$ 4 bilhões por ano, com parte dos recursos sendo canalizados para compra de fazendas, usinas, transportadoras e postos de combustível.

Em estados como MT, MS e PA, o preço médio do hectare varia de R$ 8 mil a R$ 30 mil, dependendo da região. Assim, com apenas R$ 1 bilhão, a facção teria potencial para adquirir mais de 30 mil hectares por ano, mesmo em áreas valorizadas.

De acordo com especialistas, a organização multiplicou o poderio econômico nos últimos anos desde que passou a monopolizar o tráfico de drogas pela chamada Rota Caipira.

O trajeto escoa a produção de entorpecentes de países como Paraguai, Bolívia e Colômbia com destino ao Porto de Santos. Deste modo, o PCC também ampliou sua presença no exterior. 

marcola pcc

Dupla função

Essas terras cumprem dupla função: operacional e financeira. No plano logístico, servem como base para pousos clandestinos, armazenamento de drogas, armas e munições.

No plano contábil, funcionam como plataformas de lavagem de dinheiro, com faturamento fictício proveniente da pecuária e cultivo de grãos. Documentos judiciais indicam que a facção já foi flagrada manipulando declarações de rebanhos e utilizando notas fiscais frias para justificar entradas milionárias no sistema bancário.

O poder do PCC no campo, no entanto, vai além das porteiras. Reportagens recentes apontam a presença da facção em postos de gasolina, redes de supermercados, distribuidoras de açúcar e álcool — setores estratégicos para ocultar grandes volumes de dinheiro vivo.

Em 2024, o grupo chegou a ser acusado por fazendeiros e ambientalistas de promover queimadas criminosas no interior de São Paulo, como forma de desestabilizar rivais locais em áreas disputadas por milicianos.

O cerco das autoridades tem se intensificado, com operações como “Rei do Crime” e “Serras Gerais” bloqueando centenas de milhões de reais em bens. Ainda assim, a profundidade da infiltração do PCC no agronegócio levanta alertas sobre a fragilidade dos mecanismos de controle patrimonial no Brasil.

O campo, por muito tempo visto como símbolo de produção e progresso, também se tornou uma das trincheiras mais silenciosas — e lucrativas — do crime organizado.

Gigantes do agro

A comparação com grupos agroindustriais é inevitável. A SLC Agrícola, por exemplo, cultiva cerca de 833 mil hectares no país — ou seja, a facção teve cerca de 75% da área da SLC já sob controle direto, ainda que de forma oculta, por meio de laranjas e empresas de fachada.

Segundo dados das próprias empresas, os maiores grupos agrícolas do Brasil em termos de área cultivada são:

  1. 1- SLC Agrícola: Possui 833 mil hectares dedicados à produção de soja, milho, algodão e pecuária.
  2. 2- Bom Futuro: Opera em 600 mil hectares, destacando-se na produção de grãos e algodão.
  3. 3- Amaggi: Cultiva 380 mil hectares, sendo líder na produção de grãos e fibras.
  4. 4- Grupo Bom Jesus: Atua em 374 mil hectares, com foco na produção de soja no estado do Mato Grosso.
  5. 5- Scheffer: Com mais de 215 mil hectares, é reconhecida pela produção sustentável de algodão, soja e milho.

Os números mostram que, se fosse uma holding agrícola, o PCC estaria entre as cinco maiores do setor em extensão territorial.

FONTE: AgrofyNews
Hits: 127