Produção de ovos livres de gaiola avança no Brasil, mas há riscos de retrocesso

A produção de ovos livres de gaiolas está em expansão no Brasil, mas ainda enfrenta entraves que podem comprometer metas globais de bem-estar animal até 2030. É o que revela o Relatório Parcial 2025 do EggLab, plataforma de auditoria e transparência do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal. De acordo com o estudo, 59,39% das empresas monitoradas já migraram total ou parcialmente para sistemas cage-free, refletindo em mudanças estruturais no setor e impactando positivamente a vida de mais de 11,5 milhões de galinhas. A expectativa é de que esse número alcance 34 milhões de animais beneficiados até o fim da década, consolidando uma das maiores transições de bem-estar animal da América Latina.

Apesar dos avanços, o relatório alerta que o ritmo atual ainda é insuficiente para garantir que as promessas sejam cumpridas dentro dos prazos anunciados. O principal desafio é a falta de transparência: grande parte das empresas não divulga relatórios públicos de progresso, o que dificulta o monitoramento social e enfraquece a cobrança por resultados concretos.

O levantamento também identificou outros gargalos que comprometem a efetividade dos compromissos assumidos. Entre eles estão a ausência de planos detalhados com metas intermediárias e indicadores verificáveis; desafios logísticos e carência de fornecedores de ovos processados cage-free; e baixo investimento em comunicação com o consumidor, que resulta na perda de oportunidades de engajamento e valorização de marca.

Outro ponto de atenção é a prática conhecida como “humane washing” — quando empresas usam linguagem vaga e campanhas de marketing para transmitir uma falsa impressão de responsabilidade socioambiental, sem adotar de fato práticas éticas e transparentes. “Estamos preocupados com companhias que tratam o cage-free mais como uma peça de marketing do que como um compromisso real. Isso ameaça a credibilidade do movimento”, alerta Taylison Santos, vice-presidente do Fórum Animal.

Casos positivos, porém, mostram que é possível avançar com responsabilidade. M. Dias Branco e GPA, por exemplo, estruturaram planos consistentes, divulgaram relatórios públicos e estabeleceram estratégias de engajamento com fornecedores, tornando-se referência no setor.

Papel estratégico – O relatório também destaca que os próximos anos serão decisivos, já que diversos compromissos corporativos expiram em 2025. Isso exigirá ações concretas e mecanismos consistentes de reporte para evitar retrocessos e manter a credibilidade do movimento cage-free no país.

“O relatório evidencia um paradoxo: celebramos um impacto positivo que já transformou a vida de milhões de animais, mas ainda vemos falhas que colocam em risco as metas para 2030. A transparência e a comunicação clara com a sociedade são essenciais para consolidar a credibilidade desse movimento”, afirma Lucas Galdioli, gerente do EggLab.

Segundo o levantamento, o Brasil já soma mais de 190 compromissos públicos relacionados à produção de ovos livres de gaiolas, abrangendo setores como hotelaria, alimentação fora do lar, varejo e indústria de alimentos. No entanto, a falta de relatórios técnicos e verificáveis ainda abre espaço para que muitas promessas não sejam cumpridas.

Criado para monitorar, auditar e apoiar a implementação de políticas de bem-estar animal, o EggLab atua como ferramenta de conexão entre empresas, consumidores e sociedade civil. A plataforma busca propor soluções técnicas e estratégicas que auxiliem as empresas a superar desafios de mercado e fortalecer práticas éticas e sustentáveis na cadeia produtiva de ovos. O Relatório Parcial EggLab 2025 está disponível gratuitamente no site www.egglab.org.br.

O EggLab é uma plataforma de auditoria e transparência que monitora compromissos corporativos para a transição a sistemas livres de gaiolas no Brasil. Por meio de metodologias participativas, relatórios técnicos e diálogo com empresas, busca alinhar bem-estar animal, ética, rastreabilidade e sustentabilidade na produção de ovos.

O Fórum Animal é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos dedicada à defesa dos animais. Atua na promoção de políticas públicas, campanhas e projetos voltados ao bem-estar, à ética e à responsabilidade socioambiental.