China desafia EUA e lança proposta de nova ordem mundial ao lado de Rússia e Índia
Xi Jinping apresenta iniciativa de governança global em meio a tensões com os Estados Unidos
O presidente da China, Xi Jinping, propôs nesta segunda-feira (1) a criação da Iniciativa de Governança Global (IGG), apresentada como um possível embrião de uma nova ordem mundial.
O anúncio ocorreu durante a cúpula da Organização para Cooperação de Xangai Plus (OCX), realizada em Tianjin, no norte da China, com a presença de 20 líderes de países não ocidentais, entre eles o russo Vladimir Putin e o indiano Narendra Modi.
Em seu discurso, Xi Jinping afirmou que a governança global está ameaçada pela “mentalidade da Guerra Fria, o hegemonismo e o protecionismo”, que continuariam a “assombrar o mundo” oito décadas após o fim da 2ª Guerra Mundial e a criação da ONU.
“O mundo encontra-se num novo período de turbulência e transformação. A governança global chegou a uma nova encruzilhada. A história nos diz que, em tempos difíceis, devemos manter nosso compromisso original com a coexistência pacífica, fortalecer nossa confiança na cooperação vantajosa para todos”, declarou.
A proposta ocorre em meio à guerra comercial intensificada pelos Estados Unidos, sob o governo de Donald Trump, que aplicou tarifa de 50% a produtos indianos e pressiona Nova Délhi a suspender a compra de petróleo russo — exigência que a Índia rejeita.
O peso da cúpula em Tianjin
O encontro, que marca a 24ª cúpula da OCX, antecede as comemorações dos 80 anos da “vitória na Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa e na Guerra Antifascista Mundial”.
Segundo a diplomacia em Pequim, cerca de 50 líderes mundiais são esperados no desfile militar da próxima quarta-feira (3).
Durante o evento, Modi apareceu sorridente e de mãos dadas com Xi Jinping e Vladimir Putin, primeira visita do premiê indiano à China em sete anos.
A cena foi vista como um gesto de reaproximação entre gigantes asiáticos historicamente marcados por disputas fronteiriças e rivalidades geopolíticas.
Os cinco princípios da proposta chinesa
Xi Jinping apresentou cinco pilares para a nova governança global:
igualdade soberana entre os Estados;
respeito ao direito internacional;
prática do multilateralismo;
abordagem centrada nas pessoas;
adoção de medidas concretas.
“Devemos defender que todos os países, independentemente de tamanho, força e riqueza, sejam participantes, tomadores de decisão e beneficiários iguais na governança global. Devemos promover maior democracia nas relações internacionais e aumentar a representação e a voz dos países em desenvolvimento”, disse o líder chinês.
Além disso, Xi anunciou ajuda financeira de US$ 280 milhões aos países membros da OCX e um empréstimo adicional de 10 bilhões de yuans para bancos da organização.
A entidade também coordena projetos em áreas como inteligência artificial, energia verde e combate ao narcotráfico.
Rússia apoia e reforça discurso

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, destacou que mais de dez países manifestaram interesse em ingressar na OCX, o que, segundo ele, comprova a relevância da organização como espaço de “diálogo aberto e transparente”.
“A Rússia apoia a iniciativa de Xi Jinping e está interessada em iniciar discussões específicas sobre as propostas apresentadas pela China. Acredito que é a OCS que poderia assumir o papel de liderança nos esforços que visam moldar um sistema de governança global mais justo”, afirmou.
Índia entrelaçada entre China, Rússia e EUA
O indiano Narendra Modi agradeceu a hospitalidade da China e registrou nas redes sociais que teve uma “excelente” reunião com Vladimir Putin.
“Discutimos maneiras de aprofundar a cooperação bilateral em todas as áreas, incluindo comércio, fertilizantes, espaço, segurança e cultura. Trocamos opiniões sobre processos regionais e globais, incluindo a solução pacífica do conflito na Ucrânia. Nossa Parceria Estratégica Privilegiada Especial continua sendo o pilar mais importante da estabilidade regional e global”, escreveu.
Em paralelo, a diplomacia chinesa ressaltou que Índia e China iniciaram um processo de reaproximação desde a cúpula do Brics, em 2024, na Rússia.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores de Pequim, as tensões nas fronteiras estão sob controle e os voos diretos entre os dois países devem ser retomados em breve.
“O relacionamento está de volta a uma trajetória positiva. A paz e a estabilidade nas regiões fronteiriças foram mantidas e os voos diretos estão prestes a ser retomados. Esse progresso beneficia não apenas os povos da Índia e da China, mas também o mundo inteiro. Índia e China são parceiras, não rivais. Nosso consenso supera em muito nossa discordância”, informou o órgão em nota.







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