O avanço da energia solar no agro e os obstáculos enfrentados pelo setor
Agro lidera expansão da energia solar, mas enfrenta desafios como juros elevados e limitações na rede elétrica.

A fazenda Chapadão das Guaritas, em São Gotardo (MG), que pertence ao produtor de leite Washington Aparecido Silva, gasta R$ 70 mil em energia por mês, mas paga apenas de R$ 18 mil a R$ 20 mil. A economia de cerca de R$ 50 mil por mês foi garantida com a instalação de placas solares.
Oitenta por cento das placas foram instaladas no teto do galpão que abriga as vacas holandesas no sistema de confinamento. As outras ficam no chão.
“Quando coloquei o pivô central [de irrigação], precisei instalar mais placas para aumentar a captação de energia solar fotovoltaica. Hoje, 80% da necessidade da fazenda é atendida, mas vou investir mais para chegar a 90 mil kWh e zerar a conta da energia”, diz o produtor, que gastou R$ 1,5 milhão no sistema, investimento que já se pagou.
O agro está apostando na energia solar, mas enfrenta desafios.
O fazendeiro diz que sua decisão de apostar na energia fotovoltaica se deu, inicialmente, pelo lado financeiro, já que a produção de leite tem margens baixas e demanda muitos gastos com energia para ambientação dos animais, ordenha mecânica e resfriamento do leite.
“Depois, vi os benefícios para o meio ambiente. Com a energia renovável, tenho hoje uma produção mais sustentável.”
O pecuarista mineiro é um dos que ajudaram a engordar os investimentos do agro nessa fonte de energia até 2023. O setor é o terceiro que mais consome energia solar fotovoltaica no país, depois do residencial e comercial, com cerca de 14% - em 2016, não chegava a 5%.
No ano passado, no entanto, os juros elevados fizeram os aportes do setor agropecuário cair, tendência que se mantém neste ano. Além dos juros altos, há outro desestímulo ao investimento, segundo Bárbara Ferreira Viegas Rubim, vice-presidente da Absolar: as distribuidoras de energia passaram a alegar que as redes estão sobrecarregadas para receber novos sistemas on grid, em que a energia solar captada pelos módulos solares é conectada à rede de distribuição.
A dirigente diz que o Brasil é um dos países que mais investem em energia solar fotovoltaica, mas poderia crescer mais porque tem um dos melhores recursos solares e uma das contas de energia mais caras do mundo. Mas esse crescimento vai depender de uma sinalização mais forte do governo no compromisso com uma transição energética.
“O governo precisa reconhecer o problema das limitações das distribuidoras, que pode ser uma prática anticoncorrencial.”
Distribuidoras rebatem críticas e defendem limites para a geração solar
Marcos Madureira, presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), rebate com veemência a crítica da Absolar. Segundo ele, o Brasil tem uma das maiores taxas de eletrificação do mundo, com 99,8%, e as distribuidoras investem R$ 6 bilhões por ano para capacitar as redes nas áreas rurais. Os gargalos surgem, diz, quando há muita gente injetando energia na rede do mesmo momento.
“O problema é que o pessoal ampliou o conceito da geração distribuída remota compartilhada, em que a geração ocorre em uma propriedade mais distante e é transportada para o ponto de consumo, para construir as fazendas de energia solar e vender para terceiros até por aplicativo sem nenhum investimento nas linhas de rede.”
As limitações hoje ocorrem principalmente no Centro Oeste, Sudeste e Matopiba, onde a expansão do agro é maior. Nessas áreas, segundo Madureira, a rede veio segurando até este momento, mas agora chegaram os gargalos, que podem impactar até o sistema de transmissão.
Uma alternativa apontada por ele para solucionar o problema é o uso do sistema fotovoltaico off grid, que não é conectado à rede de distribuição. A energia excedente gerada pelos painéis solares é armazenada em baterias para poder ser utilizada em outro momento, como à noite, quando não há luz solar.
Segundo o presidente da Abradee, novos projetos têm que ser submetidos à distribuidora da região, que vai avaliar a capacidade da rede. Uma resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) determinou que todos os pedidos de até 7,5 kW tenham liberação imediata, desde que a energia seja consumida no local gerado.
As informações são do Globo Rural, adaptadas pela equipe MilkPoint
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