Nova safra, problema antigo: gargalos nos portos elevam prejuízo de exportadores de café

Atrasos de navios e falhas na infraestrutura portuária causaram quase R$ 9 milhões em prejuízos a exportadores de café, segundo o Cecafé

Nova safra, problema antigo: gargalos nos portos elevam prejuízo de exportadores de café
Ilustrativa

A entrada dos cafés da nova safra reacendeu um problema recorrente no setor: os gargalos logísticos nos portos brasileiros.

Em setembro, o aumento dos atrasos de navios e das rolagens de cargas, resultado do esgotamento da infraestrutura portuária, elevou os custos dos exportadores e reduziu a receita cambial do país. 

As empresas associadas ao Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) acumularam prejuízo de R$ 8,99 milhões apenas com armazenagens adicionais, pré-stacking e detentions, despesas causadas pela impossibilidade de embarque de 939.494 sacas, o equivalente a 2.848 contêineres de café.

Foi o terceiro pior resultado da série histórica da entidade, atrás apenas dos registrados em novembro (R$ 11,9 milhões) e dezembro (R$ 9,2 milhões) de 2024. 

O volume que deixou de ser embarcado em setembro representou perda de receita de US$ 348,29 milhões (R$ 1,87 bilhão), considerando o preço médio FOB de exportação de US$ 370,72 por saca e a cotação média do dólar em R$ 5,37 no período. 

Cecafé cobra agilidade em leilão do Tecon Santos 10 

Segundo o diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron, é urgente ampliar a capacidade de movimentação de cargas e diversificar os modais de transporte.

Ele afirma que entraves burocráticos,como o atraso no leilão do terminal Tecon Santos 10, ampliam os prejuízos e afetam a renda dos produtores. 

“Enquanto entraves burocráticos existirem e forem lentos, como o que vem empacando a realização do leilão do Tecon Santos 10, os exportadores brasileiros de café terão prejuízos ampliados. Os cafeicultores receberão menos receita, pois somos o país que mais repassa o valor dos embarques aos produtores, acima de 90% nas últimas safras, e o Brasil deixará de receber bilhões em receita”, afirma Heron. 

Em outubro, o Cecafé e a Associação Logística Brasil divulgaram um comunicado público pedindo celeridade no leilão, defendendo ampla concorrência e a participação irrestrita de interessados. O objetivo é evitar a judicialização do processo e acelerar o aumento da oferta portuária. 

Divergências entre ANTAQ e TCU 

O diretor lembra que a Unidade de Auditoria Especializada em Infraestrutura Portuária e Ferroviária (AudPortoFerrovia), do Tribunal de Contas da União (TCU), emitiu parecer de 203 páginas sobre o tema.

O relatório conclui que o leilão deve ser realizado em uma única etapa, sem restrições à participação de operadores, e considera ilegal a proposta de leilão faseado feita pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ). 

De acordo com o TCU, a decisão da ANTAQ desrespeita princípios constitucionais de ampla concorrência e proporcionalidade, por se basear em “riscos e premissas hipotéticas” já afastados pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e pela própria agência. 

Heron destaca que o impasse preocupa não apenas o setor cafeeiro, mas todo o comércio exterior brasileiro.

“O Cecafé vem mantendo contato com exportadores de açúcar, algodão e celulose, que enfrentam os mesmos desafios e temem que o leilão restrito cause nova onda de atrasos e prejuízos”, afirma. 

Ele questiona os motivos da limitação imposta pela ANTAQ: “Se o relatório técnico do TCU já concluiu que há ilegalidade na restrição da participação e que existem mecanismos adequados para evitar concentração, o que justifica manter o impedimento a grandes operadores que podem atender com eficiência às cargas?”. 

Setor pressiona por decisão ainda em 2025 

O diretor do Cecafé defende que o Ministério de Portos e Aeroportos garanta um processo técnico, transparente e voltado ao interesse nacional. “Os exportadores e a sociedade precisam de respostas sobre por que restringir a participação de empresas experientes e renunciar ao potencial arrecadatório de um leilão amplo, em um momento em que o país busca aumentar sua receita”, afirma.

Heron conclui que os exportadores esperam a realização do leilão do Tecon Santos 10 de forma irrestrita e em fase única, ainda em 2025 ou no máximo no primeiro trimestre de 2026, para evitar novos gargalos e destravar a logística de cargas conteinerizadas no país.

Raio-x dos atrasos 

O Boletim DTZ, elaborado pela startup ElloX Digital em parceria com o Cecafé, mostra que 57% dos navios — 202 de um total de 355 embarcações — tiveram atrasos ou alterações de escala nos principais portos do Brasil em setembro de 2025.

O Porto de Santos, responsável por 79,3% das exportações de café no acumulado do ano, registrou 75% de atrasos ou mudanças de escala, envolvendo 139 dos 185 navios de contêineres. O tempo de espera chegou a 35 dias. 

Apenas 3% dos embarques tiveram prazo superior a quatro dias de gate aberto. Em 59% dos casos, o intervalo foi de três a quatro dias, e em 38%, inferior a dois dias. 

No Porto do Rio de Janeiro, segundo maior exportador de café do país (16,9% dos embarques), 44% das operações sofreram atrasos, com um intervalo máximo de 63 dias entre o primeiro e o último deadline. Ao todo, 42 das 95 embarcações tiveram alteração de escala. 

Nos portos fluminenses, 37% dos embarques tiveram gate aberto por mais de quatro dias, 35% ficaram entre três e quatro dias e 29% duraram menos de dois dias.