Novo embate global: Trump ameaça tarifa de 10% a países alinhados ao Brics
China e Rússia reagem e Lula cobra mais poder ao Sul Global no FMI

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que pretende impor uma tarifa extra de 10% a produtos originários de países que “se alinharem às políticas antiamericanas do Brics”. A declaração foi publicada na rede Truth Social, plataforma de Trump.
“Qualquer país que se alinhe às políticas antiamericanas do Brics será taxado com tarifa extra de 10%. Não haverá exceções a essa política. Obrigado pela atenção em relação a essa questão”, escreveu Trump, acrescentando que a medida será adotada sem exceções.
A ameaça ocorre no mesmo dia em que os países do Brics divulgaram a declaração final da 17ª Reunião de Cúpula, realizada no Rio de Janeiro, com foco na defesa do multilateralismo, críticas ao protecionismo e propostas de cooperação entre economias emergentes.
Na declaração conjunta, os 11 países-membros permanentes ─ Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Indonésia ─ reforçaram o papel do bloco como voz ativa do Sul Global.
O texto destaca que o grupo representa 39% do PIB mundial, 48,5% da população do planeta e 23% do comércio global. Em 2024, os países do Brics responderam por 36% das exportações brasileiras e por 34% das importações.
“Acreditamos que os países do Brics continuam a desempenhar um papel central na expressão das preocupações e prioridades do Sul Global, assim como na promoção de uma ordem internacional mais justa, sustentável, inclusiva, representativa e estável, com base no direito internacional”, afirma o documento, batizado de Declaração do Rio de Janeiro: Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável.
Entre os 126 pontos do texto, o bloco critica medidas protecionistas e reitera apoio a um sistema multilateral de comércio “baseado em regras, aberto, transparente, justo, inclusivo, equitativo e não discriminatório”, com a Organização Mundial do Comércio (OMC) em seu núcleo.
China e Rússia reagem a Trump
A China respondeu nesta segunda-feira (7) às ameaças tarifárias de Trump, defendendo o Brics como “uma plataforma importante para a cooperação entre mercados emergentes e países em desenvolvimento”.
“O Brics defende abertura, inclusão e cooperação ganha-ganha, e não tem nenhum país como alvo”, afirmou o governo chinês. Pequim reiterou sua oposição ao protecionismo e voltou a afirmar que “não há vencedores em guerras comerciais e tarifárias”.
A Rússia também se posicionou diante das declarações de Donald Trump. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que o grupo Brics nunca teve como objetivo prejudicar outras nações.
“De fato, vimos tais declarações do presidente Trump, mas é muito importante notar que a singularidade de um grupo como o Brics é que se trata de um grupo de países que compartilham abordagens comuns e uma visão de mundo comum sobre como cooperar com base em seus próprios interesses. E essa cooperação dentro do Brics nunca foi e nunca será direcionada contra quaisquer terceiros países”, declarou Peskov.
Temas centrais: clima, IA e reforma tributária global
Além da agenda geopolítica e comercial, o documento final também abordou temas como mudança climática, inteligência artificial (IA), justiça tributária e desenvolvimento sustentável.
Sobre a IA, os líderes defenderam a criação de uma governança global que mitigue riscos e seja inclusiva. O texto propõe que as Nações Unidas estejam no centro desse esforço e destaca a necessidade de capacitação dos países do Sul Global.
Em relação ao clima, os países reafirmaram o compromisso com o Acordo de Paris e a UNFCCC, destacando a necessidade de apoio financeiro aos países em desenvolvimento. Também reconheceram o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), proposto pelo Brasil, como um mecanismo inovador a ser lançado na COP30, em Belém.
Na área econômica, os líderes defenderam uma reforma no sistema tributário global, com aumento da progressividade, combate à evasão e apoio à mobilização de receitas domésticas.
O documento também destacou a importância das micro, pequenas e médias empresas (MSMEs), propondo a troca de boas práticas para simplificar operações e impulsionar o comércio.
Lula critica FMI e pede mais poder ao Sul Global
Durante a cúpula, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o papel do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, afirmando que essas instituições sustentam um “Plano Marshall às avessas”, em que países em desenvolvimento financiam os desenvolvidos.
“As distorções são inegáveis”, declarou Lula, durante sessão dedicada a multilateralismo, economia e inteligência artificial, no Museu de Arte Moderna do Rio. “Para fazer jus ao nosso peso econômico, o poder de voto dos membros do Brics no FMI deveria corresponder pelo menos a 25% — e não os 18% que detemos atualmente.”
Lula também criticou o neoliberalismo e a crescente concentração de riqueza global. “Três mil bilionários ganharam US$ 6,5 trilhões desde 2015”, disse.
Fávaro: Brics são alternativa ao protecionismo
O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, também reagiu à postura dos EUA e defendeu o Brics como plataforma de resistência ao protecionismo.
“O mundo não precisa de supertaxação. Taxar a exportação de alimentos é taxar o combate à fome, é encarecer a comida no mundo”, afirmou. Segundo ele, o Brics representa “uma esperança que dias normais voltem a acontecer no comércio mundial”.
Fávaro também criticou a postura americana.
“É um contrassenso que os Estados Unidos, sob um governo dito liberal na economia, adotem medidas protecionistas, enquanto o Brasil, com um governo progressista, defende o livre mercado. É um rumo certo que o Brasil apresenta para o mundo.”
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