Mortes de cavalos por ração contaminada podem passar de 600 no Brasil; criadores relatam colapso e prejuízo

Ministério confirma 222 mortes, mas investiga casos em ao menos oito localidades

Mortes de cavalos por ração contaminada podem passar de 600 no Brasil; criadores relatam colapso e prejuízo
Ilustrativa

Desde abril, centenas de cavalos morreram em diferentes regiões do Brasil após consumir ração contaminada — uma crise que continua mobilizando criadores e autoridades do setor agropecuário. O número de mortes pode passar de 600.


Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou que 222 cavalos morreram em cinco estados do país após consumirem rações fabricadas pela empresa Nutratta Nutrição Animal Ltda

Os óbitos foram registrados em São Paulo (83), Rio de Janeiro (69), Alagoas (65), Goiás (4) e Minas Gerais (1). A investigação foi iniciada em 26 de maio, após a primeira denúncia formalizada por meio da Ouvidoria do ministério. 

O número real de mortes pode ser muito maior. Segundo o Mapa, há novas suspeitas em investigação em outras localidades, incluindo: 40 casos no sudoeste da Bahia, 70 em Goiânia (GO), 34 em Jarinu (SP), 10 em Santo Antônio do Pinhal (SP), 18 em Uberlândia (MG), 8 em Guaranésia (MG), 8 em Jequeri (MG) e 7 em Mariana (MG).

Como muitas dessas ocorrências ainda não foram formalizadas via Ouvidoria — canal oficial de denúncias —, a apuração enfrenta entraves, segundo a pasta.

Sintomas silenciosos e evolução rápida

A natureza dos sintomas apresentados pelos animais também dificulta a investigação, explica o Mapa. Os animais afetados apresentam inicialmente insuficiência hepática, seguida de piora clínica súbita, o que torna o diagnóstico e a associação direta com o consumo da ração ainda mais desafiadores. 

Há relatos de sintomas que surgem dias após a suspensão do produto, o que dificulta o rastreamento dos lotes contaminados.

“Nunca vimos nada parecido com isso, uma verdadeira chacina”, afirmou em entrevista para EPTV Paulo Henrique Barbuglio, responsável por um rancho em Indaiatuba (SP), onde 35 cavalos morreram.

 

Os prejuízos no local são estimados em R$ 2 milhões, considerando a perda de animais, tratamentos, quebra na rotina de trabalho e custos com assistência veterinária. Antes do caso, o local tinha 105 animais, e após mortes e saídas, possui atualmente 52 equinos.

Interdição e ação judicial

Segundo o Mapa, a Fiscalização Federal Agropecuária realizou duas inspeções no único estabelecimento da Nutratta e constatou irregularidades que levaram à suspensão cautelar da fabricação e comercialização de todas as rações da empresa — tanto para equinos quanto para ruminantes.

A fabricante impetrou mandado de segurança contra as medidas adotadas, e o Mapa já prestou os devidos esclarecimentos ao Poder Judiciário. A decisão ainda não foi proferida.

Em nota, a empresa sustenta que ainda não há nexo de causalidade comprovado entre seus produtos e os óbitos, mas afirma colaborar integralmente com as autoridades.

A Nutratta alega que os testes laboratoriais preliminares identificaram a presença de monocrotalina, substância tóxica encontrada em plantas do gênero Crotalaria, frequentemente usadas como adubo verde.Segundo a empresa, caso essa hipótese se confirme, trata-se de uma fatalidade decorrente de contaminação vegetal.

Ainda de acordo com a nota, a empresa adotou medidas adicionais de autocontrole, como:

  • Reforço das análises laboratoriais;

  • Revisão dos protocolos de qualificação de fornecedores;

  • Rastreamento das matérias-primas vegetais;

  • Reestruturação do layout fabril.

“A Nutratta permanece à disposição das autoridades e da sociedade para prestar os esclarecimentos técnicos necessários, mantendo seu compromisso com a qualidade, a segurança alimentar e o bem-estar animal, valores que sempre nortearam sua atuação”, conclui a nota.

Prejuízos milionários e colapso no setor

Um dos cavalos mortos seria Quantum da Alcateia, reprodutor da raça Mangalarga Marchador avaliado em R$ 12 milhões, segundo representantes legais de um grupo de vítimas.

A maioria das ocorrências está concentrada em municípios paulistas como Campinas, Sorocaba, Itu, Jundiaí, Jarinu e Indaiatuba, mas também há registros em outros estados como Minas Gerais, Alagoas, Goiás, Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte, de acordo com o grupo.

De acordo com o grupo “Vítimas da Nutratta” em entrevista ao Agro Band, o número de mortes pode ultrapassar 657 cavalos. Além disso, há 367 animais em tratamento e 212 sob observação clínica.

A Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM) afirmou que as perdas são “incalculáveis, não apenas do ponto de vista econômico, mas também genético e emocional”. 

Para criadores e associações, o impacto é descrito como um colapso no setor, com perdas que extrapolam o aspecto financeiro e atingem a base genética dos plantéis.

A entidade recomendou a suspensão imediata do uso da ração e acionou o Ministério Público para apuração das responsabilidades.

Mapa pede formalização via Ouvidoria

O Ministério reforça que todas as denúncias devem ser formalizadas exclusivamente pela Ouvidoria, por meio do endereço gov.br/ouvidorias, para que possam ser oficialmente investigadas.

O órgão reafirma seu compromisso com a saúde animal e a segurança da cadeia de produção agropecuária no Brasil.

FONTE: AgrofyNews
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