Banco do Brasil restringe crédito a produtores em recuperação judicial e acende alerta no campo
Decisão do maior financiador do agro provoca reação política e expõe aumento do endividamento rural
O Banco do Brasil (BB) confirmou que produtores rurais que entrarem em recuperação judicial poderão ter o acesso ao crédito bloqueado.
A decisão, comunicada após declarações do vice-presidente de Controles Internos e Gestão de Riscos, Felipe Prince, reacendeu o debate sobre as condições de financiamento no campo e o avanço do endividamento rural.
Em entrevista à Bloomberg, Prince afirmou que produtores que recorrerem ao instrumento legal “não terão crédito hoje, amanhã ou nunca mais”.
Segundo ele, a recuperação judicial tende a inviabilizar a safra seguinte, já que os bancos consideram elevado o risco para esse perfil de cliente. “As recuperações judiciais são uma armadilha”, declarou o executivo.
Em nota divulgada nesta quarta-feira (29/10), o Banco do Brasil defendeu a medida, afirmando que a recuperação judicial é um instrumento legítimo, mas que tem sido “desvirtuado de forma deliberada” em alguns casos.
“O financiamento para clientes que ingressam em processos desse tipo fica restrito por conta da elevação do risco de crédito — uma medida usual adotada pela indústria financeira”, informou o banco. Segundo a instituição, o objetivo é garantir a sustentabilidade dos negócios, proteger os recursos de acionistas e investidores e preservar a capacidade de continuar financiando o setor “de forma ampla e segura”.
Atualmente, o BB possui R$ 5,4 bilhões em operações não quitadas devido a pedidos de recuperação judicial de 808 produtores. O impacto ainda é pequeno diante da carteira de crédito rural da instituição, que ultrapassa R$ 400 bilhões e atende a mais de um milhão de clientes.
O BB reforçou que mantém alternativas de renegociação, como a linha BB Regulariza Agro, criada com base na Medida Provisória 1.314/2025, que oferece condições especiais para produtores regularizarem dívidas.
“O banco segue comprometido com o fortalecimento do agronegócio, apoiando produtores de todos os portes com soluções financeiras adequadas, respeitando os princípios da governança corporativa, da transparência e da sustentabilidade”, conclui a nota.

Reação
A fala provocou reação imediata no setor. O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion (PP-PR), classificou ao Agro Estadão a posição do banco como “mais uma surpresa negativa de um banco estatal”.
“Ninguém está em recuperação judicial porque optou por isso. O produtor chega a essa situação por necessidade”, afirmou. O parlamentar também criticou o governo federal, apontando contradições na política de crédito.
“Por um lado o governo anuncia um Plano Safra gigantesco e crédito fácil; por outro, o produtor não consegue acessar o custeio, está endividado e sem seguro”, completou.







Comentários (0)
Comentários do Facebook