Moagens em queda e ajustes de posição sinalizam cautela no mercado de cacau

O movimento contrasta com o das semanas anteriores, quando as cotações haviam recuado

Moagens em queda e ajustes de posição sinalizam cautela no mercado de cacau
Ilustrativa

Os preços do cacau apresentaram variações nos últimos dias. O primeiro contrato encerrou a semana de 24 de outubro cotado a US$ 6.319/t em Nova York e £ 4.518/t em Londres, acumulando ganhos semanais de 7,19% e 10,03%, respectivamente.

O movimento contrasta com o das semanas anteriores, quando as cotações haviam recuado.

Parte dessas oscilações recentes reflete a divulgação dos dados de moagem referentes ao terceiro trimestre de 2025, principal indicador de desempenho da demanda global.

A Cocoa Association of Asia (CAA) e a European Cocoa Association (ECA) reportaram retração na atividade no período.

No caso da CAA, a queda foi de 17,08%, influenciada sobretudo pela redução significativa observada na Malásia, onde o volume processado ficou 35,1% abaixo do registrado no mesmo trimestre de 2024. Ainda assim, resultados positivos em países como Indonésia e Singapura ajudaram a suavizar a retração regional.

“Na Europa, a queda do volume processado foi um pouco menor do que o mercado esperava, hipótese que já havíamos considerado. O déficit das importações totais líquidas de cacau no acumulado de janeiro a setembro, em relação ao mesmo período do ano anterior, vem diminuindo gradualmente — passando de mais de 10% em alguns momentos para cerca de 3,99% atualmente — o que indica uma leve recuperação da atividade ao longo do ano”, explica Carolina França, analista de inteligência de mercado da Hedgepoint Global Markets.

Avanço

A analista destaca que a National Confectioners Association (NCA) apresentou resultado positivo, com alta de 3,22% em relação ao mesmo período do ano anterior.

O avanço foi parcialmente explicado pela inclusão de novos participantes no levantamento, mas também refletiu o aumento expressivo das importações totais líquidas de cacau, que até julho estavam quase 70% acima do mesmo período de 2024. 

“Apesar dos resultados mistos, o impacto dos preços elevados sobre o consumo segue evidente. Mesmo com correções para baixo nas cotações, algumas delas ocorreram tardiamente e não foram suficientes para aliviar os custos durante o trimestre, mantendo a pressão sobre as margens do setor. Assim, os resultados ainda refletem um cenário de preços historicamente altos e margens pressionadas na indústria”, afirma. 

Após a divulgação dos números, que reforçaram as expectativas de superávit para o ciclo atual, o mercado encerrou a semana de 17 de outubro a US$ 5.895/t em Nova York e £ 4.106/t em Londres. As cotações seguiram pressionadas na zona sobrevendida, aumentando a probabilidade de movimentos técnicos de correção. 

Nesse contexto, segundo dados analisados pela Hedgepoint Global Markets, a semana encerrada em 24 de outubro apresentou comportamento distinto: as cotações voltaram a subir nos dois mercados, em movimento técnico sustentado pela redução nas entregas de cacau da Costa do Marfim e pelas discussões sobre a Regulamentação Antidesmatamento da União Europeia (EUDR). 

De acordo com o relatório mais recente do Cocoa Barometer, cerca de 40% dos grãos de cacau da Costa do Marfim foram rastreáveis na última temporada. 

“O dado reforça a atenção do mercado europeu, que depende de forma significativa das origens africanas para abastecimento. Com isso, cresce a expectativa por eventuais ajustes nas exigências da EUDR e por maior clareza sobre seus efeitos nas cadeias globais de comércio”, explica.

Cotações recuam

Na sexta-feira (24/10), o movimento de alta perdeu força e as cotações recuaram levemente nos dois mercados. Segundo dados da ICE Futures Europe, os especuladores ampliaram suas posições líquidas vendidas em 2.552 lotes até 21 de outubro, totalizando 15.609 lotes.

O aumento das posições curtas reforça o sentimento mais cauteloso e o viés baixista dos fundos em relação ao mercado londrino.

Em Nova York, os dados seguem indisponíveis devido à paralisação temporária do governo norte-americano. 

“O mercado permanece atento à divulgação dos resultados financeiros das principais processadoras e fabricantes de chocolate nas próximas semanas. Esses balanços deverão contribuir para definir o tom do mercado no curto prazo e tendem a manter a volatilidade elevada, enquanto os fundamentos seguem ajustando-se no início da nova safra 2025/26”, conclui.