Metano vira fertilizante e lucro nas fazendas
Em um projeto-piloto na Califórnia, microrganismos capturaram e converteram mais de 85% do metano das fazendas em fertilizante. A inovação pode reduzir gastos, aumentar a eficiência e tornar o Brasil um dos próximos destinos da tecnologia.

Pouco mais de um ano após receber um aporte de US$ 28 milhões, cerca de R$ 140 milhões, a empresa americana Windfall Bio comemora a conclusão de um primeiro projeto-piloto com o seu biorreator, tecnologia que utiliza micróbios comedores de metano para produzir fertilizante.
Testado em duas fazendas na Califórnia, Estados Unidos, a Straus Family Creamery e a Correia Family Dairy, a tecnologia cultiva microrganismos naturais, os chamados mems (micro-electro-mechanical systems), capazes de capturar e se alimentar do metano presente no ambiente.
O resultado desse processo é a transformação do gás poluente em uma biomassa rica em nitrogênio, ideal para a produção de fertilizantes que podem ser usados nas próprias propriedades ou comercializados. Caso o produtor não tenha interesse no subproduto, a Windfall garante a compra do material.
Os testes demonstraram benefícios tanto ambientais quanto financeiros. Além de contribuir para a redução das emissões de metano, gás responsável por 30% do aquecimento do planeta, a tecnologia mostrou potencial para aumentar a eficiência operacional e melhorar a rentabilidade das fazendas.
Em pouco mais de um mês de operação contínua, os mems converteram mais de 85% do metano, oriundo do biogás de esterco bruto, em fertilizante natural. O sistema opera sem necessidade de pré-tratamento do gás ou de energia externa e ainda contribuiu para reduzir o mau odor e melhorar a qualidade do ar nas fazendas.
Para Josh Silverman, cofundador e CEO da Windfall Bio, o sucesso do projeto-piloto é uma alternativa para os grandes varejistas de alimentos e seus fornecedores conseguirem reduzir suas emissões de Escopo 3, que ocorrem na cadeia de valor de uma empresa, mas não são de sua posse ou controle direto.
Fora isso, a solução ainda promete aumentar a rentabilidade e a eficiência operacional ao permitir que agricultores e outros atores do setor transformem o metano gerado em suas operações em um recurso de alto valor para o próprio negócio.
"A produção de fertilizante gera retorno econômico e reduz a dependência de cadeias de fornecimento externas. Hoje, praticamente 0% do metano produzido nesses locais é coletado e convertido", relembra Silverman.
Segundo ele, com o biorreator, os gastos com fertilizante podem cair em 50%. "Quanto mais metano o cliente tiver, mais rápido será o período de retorno do investimento, mas os números são positivos tanto para operações grandes quanto pequenas", garante.
Entre os investidores do projeto está a brasileira Positive Ventures, que fez um aporte em abril de 2024 com o objetivo de aproximar a Windfall Bio do mercado nacional. Agora, com os resultados do projeto-piloto em mãos, Fábio Kestenbaum, sócio fundador da gestora, acredita que a chegada ao Brasil está cada vez mais próxima.
"Trata-se de uma tecnologia com alto potencial de aplicação no mercado brasileiro, e o sucesso do projeto piloto na Califórnia mostra que a solução está pronta para ganhar escala. Contar com um investidor que conhece profundamente o mercado local e sabe como navegar seus desafios é um diferencial decisivo para expansão", afirma Kestenbaum.
A expectativa é começar as implantações comerciais dentro de aproximadamente um ano. O Brasil é um dos destinos em potencial da Windfall, juntamente com os Estados Unidos, Austrália e México. O público-alvo serão fazendas de gado de corte e leiteiras de todos os tamanhos, além de empresas de bens de consumo embalados (CPG), redes varejistas de alimentos e seus fornecedores.
As informações são do Globo Rural, adaptadas pela equipe MilkPoint.
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