Reconstrução mobiliza governos e voluntários após tornado no Paraná
Governo federal reconhece estado de calamidade e anuncia pacote emergencial, enquanto mutirões e doações se espalham pelo estado
A passagem de um tornado de grandes proporções pelo Sudoeste do Paraná, no início desta semana, deixou um rastro de morte, destruição e comoção no país.
O fenômeno atingiu com mais força o município de Rio Bonito do Iguaçu, onde 90% das edificações foram danificadas ou destruídas, segundo a Defesa Civil Estadual.
Os números impressionam; até a divulgação do último balanço oficial, foram seis mortes confirmadas, 750 feridos e mais de mil pessoas desalojadas.
A força dos ventos, estimada em até 250 km/h, arrancou telhados, destruiu carros, derrubou torres de energia, comprometeu estradas rurais e devastou plantações.
Trata-se de um tornado F3 na escala Fujita, ou seja, uma força incontrolável da natureza. Uma tempestade conhecida como “supercélula”.
Reconhecimento de calamidade
O governo federal reconheceu o estado de calamidade pública no Paraná e anunciou uma série de medidas emergenciais. A primeira delas foi a liberação de um crédito de R$ 15 milhões para reconstrução de equipamentos públicos destruídos, como a escola e o ginásio municipal.
O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) coordena a liberação imediata de recursos do Fundo Nacional para Calamidades Públicas, Proteção e Defesa Civil (Funcap), destinados à assistência humanitária e à reconstrução de infraestruturas essenciais.
“Nosso foco é salvar vidas, garantir abrigo e devolver dignidade às famílias atingidas. Já estamos mobilizando técnicos e recursos para apoiar o estado e os municípios na reconstrução”, afirmou o ministro Waldez Góes, em nota publicada pela Agência Gov.
O governador Ratinho Junior (PSD) também acompanhou as operações de campo e anunciou apoio direto do estado aos municípios afetados.
“Estamos diante de uma das maiores tragédias climáticas da história recente do Paraná. A prioridade é amparar as pessoas e restabelecer os serviços essenciais”, declarou, segundo informações da Agência Estadual de Notícias (AEN).

Reconstrução e solidariedade
Equipes da Cohapar (Companhia de Habitação do Paraná) e da Secretaria de Infraestrutura e Logística estão mapeando as áreas mais atingidas para definir a reconstrução de moradias populares e a recuperação de vias e pontes que estão danificadas.
A energia elétrica já foi restabelecida parcialmente, e mutirões de limpeza mobilizam servidores públicos e voluntários de toda a região.
Organizações civis, cooperativas e entidades religiosas têm arrecadado alimentos, roupas e materiais de construção, enquanto prefeituras vizinhas oferecem apoio logístico e abrigos temporários.
Num desses abrigos, está o vigilante Adilson Camilo, que perdeu a casa no desastre. Ele conta ao G1 o que aconteceu.
“O tornado durou 30, 40 segundos, e detonou tudo. Eu tenho dois carros, um deles voou dez metros. Parecia assim como se soltassem uma bomba atômica."
Impacto no campo e no agronegócio
Além das áreas urbanas, o tornado provocou danos severos em propriedades rurais, destruindo galpões, maquinário e parte da produção agrícola.
A Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab) faz um levantamento das perdas no setor, especialmente em pequenas propriedades que fornecem grãos e leite para cooperativas regionais.
Especialistas do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar) explicam que o fenômeno foi causado pela combinação de alta umidade, calor intenso e instabilidade atmosférica, condições que favorecem tempestades severas.
O Simepar ainda registrou a ocorrência de outros dois tornados no interior do Paraná, durante as tempestades da noite de sexta-feira (07), que atingiram os municípios de Turvo e Guarapuava.
O governo estadual informou que os produtores rurais afetados poderão solicitar renegociação de dívidas e linhas emergenciais de crédito para recuperação de lavouras e infraestrutura produtiva.
Prevenção e futuro
A tragédia retomou o debate sobre eventos climáticos extremos e a necessidade de planos de contingência mais robustos em municípios rurais. O Paraná, historicamente afetado por granizos e vendavais, tem registrado aumento na frequência de fenômenos severos associados às mudanças climáticas.
A Defesa Civil mantém alerta em outras regiões do estado, enquanto o Simepar monitora novas áreas de instabilidade.
Segundo o órgão, ainda há previsão de chuvas fortes no Oeste e Sudoeste paranaense nos próximos dias.
Enquanto o poder público atua na reconstrução, a população local, ainda atônita, tenta se reerguer entre os escombros. Em meio a um cenário de guerra, persistem gestos de solidariedade que se tornaram símbolo da resistência de Rio Bonito do Iguaçu.
“Só sobrou a roupa do corpo e nossos documentos”, disse o aposentado Gilberto Brecailo em entrevista à emissora RPC, afiliada local da Globo.
Ele se abrigou num banheiro, junto da esposa, no momento da passagem do tornado. Agora, os vizinhos fazem o que podem para ajudá-lo na reconstrução da pequena casa de madeira e de sua oficina mecânica.
Em outro relato emocionante, o morador Antonio Gieteski fala do pai, morto pelo tornado, após ter a casa arremessada a 30 metros de distância. José, o pai, que estava com a companheira dentro do imóvel, não resistiu aos ferimentos.
"Ele era uma grande pessoa. Ele costumava dizer que eu era o braço direito dele, porque eu cuidava deles, mas ele era o resto [do corpo]. Se eu era o braço dele, ele era todo o resto para mim. Era muito preocupado com os filhos, comigo, com os meninos. Um excelente pai. Gostava de tomar chimarrão, contava história antiga, muito fiel, muito justo, muito correto", lembra o filho, em entrevista concedida ao G1.
Além de José, outras cinco pessoas perderam a vida nesta que é apontada como a mais devastadora tragédia climática do estado do Paraná.








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