Crédito emperrado expõe fragilidade do Plano Safra e pressiona pequenos e médios produtores
Levantamentos da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Senar reforçam a exclusão no campo: 38% dos produtores nunca contrataram crédito rural e apenas 26,6% conseguiram financiamento em 2020.

Divulgado como o “maior da história”, o Plano Safra 2024/2025 enfrenta uma realidade distante das promessas oficiais. Até abril, apenas R$ 298,6 bilhões dos R$ 400,6 bilhões previstos foram efetivamente desembolsados, o que representa 61,5% do total — uma queda de 20% em relação à mesma etapa do ciclo anterior. O ritmo lento na liberação dos recursos expõe a fragilidade da política de crédito rural e acende o alerta sobre os impactos na produção agropecuária nacional.
Para o advogado Leandro Marmo, especialista em direito do agronegócio, o cenário revela uma desconexão entre a política pública e a realidade do campo.
“Sem crédito, não há investimento nem segurança para planejar a próxima safra. É um risco direto à produção e à segurança alimentar do país”, afirma.
O problema se agrava com a crescente dependência do crédito privado, que já representa cerca de 40% do financiamento no agro brasileiro, segundo a Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (ANDAV). Os juros nesse modelo, que envolvem fornecedores de insumos, variam entre 25% e 35% ao ano, enquanto apenas 7% do crédito rural hoje vem de bancos públicos.
“O produtor está sendo empurrado para uma armadilha financeira. O crédito privado é mais caro, menos transparente e muitas vezes condicionado a práticas abusivas, como a venda casada”, alerta Marmo, que também é CEO do escritório João Domingos Advogados.
Levantamentos da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Senar reforçam a exclusão no campo: 38% dos produtores nunca contrataram crédito rural e apenas 26,6% conseguiram financiamento em 2020. Os principais entraves incluem burocracia, lentidão na liberação, exigência de garantias desproporcionais e análises de risco que desconsideram as particularidades do setor.
Mesmo com 51% dos contratos realizados via fontes controladas — com juros reduzidos —, a distribuição dos recursos é desigual. O Pronamp, voltado ao médio produtor, já teve 86% dos valores comprometidos, enquanto programas como o Prodecoop, voltado a cooperativas, ainda têm 61% de saldo, o que evidencia a lentidão operacional.
“O acesso ao crédito virou um campo minado. O modelo atual favorece grandes grupos e penaliza quem mais precisa de apoio. O Estado precisa deixar de ser espectador e voltar a ser indutor do desenvolvimento rural”, defende Marmo.
Segundo o especialista, é preciso repensar a arquitetura do Plano Safra para que ele volte a ser um instrumento de fortalecimento do agro e não um entrave ao crescimento.
“Não se trata de pedir subsídio indiscriminado, mas de garantir crédito justo, transparente e acessível para que o produtor siga produzindo. É disso que depende o presente e o futuro do Brasil no campo.”
Com informações da assessoria de imprensa
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