Algodão: preço segue firme e exportação a todo vapor

O mercado de algodão vive um momento de contrastes e oportunidades

Algodão: preço segue firme e exportação a todo vapor
Ilustrativa

O cenário do algodão brasileiro no final de 2025 desenha um quadro fascinante de duas realidades distintas. De um lado, o mercado interno opera em marcha lenta, com vendedores retraídos e indústrias comprando com cautela. Do outro, os portos do país trabalham em ritmo frenético, escoando volumes recordes da pluma para o mercado internacional. Essa dinâmica, apontada por dados recentes do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP), resulta em preços internos firmes e exige uma visão estratégica de todos os elos da cadeia.

Para o produtor rural, entender as forças por trás desse movimento é fundamental para tomar as melhores decisões de comercialização e planejar os próximos passos da sua lavoura.

Por que o preço do algodão não cede no mercado interno?

A resposta para a firmeza dos preços domésticos do algodão em pluma está em uma combinação de estratégia e oportunidade. Vendedores e produtores, neste momento, estão com o foco voltado para o cumprimento de contratos fechados anteriormente, muitos deles em condições vantajosas. Essa decisão de honrar os compromissos de exportação e vendas a prazo para a indústria retira um volume expressivo de produto do mercado à vista, conhecido como mercado spot. Com menos pluma disponível para negociação imediata, a oferta diminui e, naturalmente, os preços se sustentam em patamares elevados.

Outro fator crucial é a chamada paridade de exportação. De forma simples, isso significa que vender o algodão para o exterior está mais lucrativo do que vendê-lo no Brasil. A forte demanda global, aliada a um câmbio favorável, faz com que os preços internacionais, quando convertidos para reais, superem as ofertas do mercado doméstico. Assim, o pouco volume que sobra para o mercado spot só é negociado se o preço interno se aproximar do que o produtor conseguiria exportando. Esse alinhamento puxa as cotações para cima, mantendo o mercado interno aquecido, mesmo com poucos negócios sendo fechados.

A demanda da indústria nacional pisa no freio

Do lado da demanda, a indústria têxtil nacional adota uma postura de extrema cautela. Diante dos altos custos da matéria-prima, as empresas mostram interesse principalmente por lotes de qualidade superior, mas limitam suas aquisições ao estritamente necessário para manter a produção em andamento. Não há, no momento, um movimento de formação de grandes estoques. Essa estratégia, conhecida como “hand-to-mouth” (da mão para a boca), é uma resposta direta à conjuntura de preços elevados.

Para as fiações e tecelagens, comprar algodão a preços sustentados pela paridade de exportação representa um aumento significativo no custo de produção. Esse custo adicional nem sempre pode ser repassado integralmente ao consumidor final, o que comprime as margens de lucro. Portanto, a decisão de comprar apenas quando a necessidade é imediata é uma forma de gerenciar o fluxo de caixa e mitigar os riscos associados à volatilidade dos preços da commodity. A indústria aguarda um cenário de maior oferta ou de arrefecimento dos preços para voltar a comprar em volumes mais expressivos.

Exportações de algodão disparam e batem recordes

Enquanto o mercado interno opera com o freio de mão puxado, o setor de exportação acelera a todo vapor. Os números são a prova do dinamismo do Brasil no cenário global do algodão. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), analisados pelo Cepea, a parcial de novembro de 2025 já registrou o embarque de 323,1 mil toneladas. Esse volume não apenas supera em 7,9% o total exportado durante todo o mês de novembro do ano anterior, como também é quase 10% maior que o volume de outubro de 2025.

Se esse ritmo for mantido, as projeções indicam que o Brasil pode fechar o mês com o maior volume mensal de exportação do ano, ultrapassando a marca de 438 mil toneladas. Esse desempenho excepcional é impulsionado pela forte demanda de países asiáticos, como China, Vietnã e Bangladesh, que são grandes polos da indústria têxtil mundial. A qualidade reconhecida da fibra brasileira, somada à crescente preocupação com a sustentabilidade na produção, torna o nosso algodão um produto cada vez mais desejado no mercado global.

O que o produtor pode fazer neste cenário complexo?

Para o cotonicultor, navegar neste mercado de duas velocidades requer informação e planejamento. A conjuntura atual oferece excelentes oportunidades, mas também exige atenção aos detalhes para maximizar os resultados e minimizar os riscos. Algumas práticas são essenciais para o dia a dia na fazenda e no escritório:

  • Planejar a comercialização de forma escalonada, utilizando ferramentas como a venda antecipada (travamento de preços) para garantir a rentabilidade de parte da safra e se proteger de futuras quedas;
  • Investir em tecnologia e boas práticas agrícolas para garantir uma pluma de alta qualidade, pois são esses lotes que alcançam os melhores prêmios tanto no mercado interno quanto na exportação;
  • Acompanhar as notícias sobre a logística de escoamento, pois um volume recorde de exportação pode gerar gargalos em portos e no transporte rodoviário, impactando os custos e os prazos de entrega.

Brasil se consolida como potência global do algodão

O momento atual não é um ponto fora da curva, mas sim a consolidação de um trabalho de décadas que posicionou o Brasil como uma das grandes potências mundiais na produção e exportação de algodão. A produtividade das lavouras brasileiras está entre as mais altas do mundo, e o país é referência em produção sustentável, com a maior parte da safra certificada por programas como o Algodão Brasileiro Responsável (ABR). Inovações tecnológicas e de manejo, muitas delas desenvolvidas pela Embrapa Algodão, são fundamentais para manter essa competitividade.

Segundo pesquisadores do Cepea, “enquanto o ritmo de negócios envolvendo algodão em pluma segue lento no mercado spot nacional, os embarques da commodity para o exterior estão intensas”. Essa dualidade, explicam, reflete uma safra bem-sucedida que encontra um mercado internacional aquecido e disposto a pagar prêmios pela qualidade e sustentabilidade do produto brasileiro.

A força do agronegócio brasileiro, e da cotonicultura em particular, demonstra uma capacidade notável de resposta à demanda global. O desafio contínuo é equilibrar o atendimento ao mercado externo com as necessidades da indústria nacional, garantindo a saúde e a sustentabilidade de toda a cadeia produtiva.

Em suma, o mercado brasileiro de algodão vive um momento de forte valorização, impulsionado pela sua vocação exportadora. A aparente calmaria no mercado spot doméstico mascara uma intensa atividade nos bastidores, com o cumprimento de contratos e o foco no comércio internacional. 

AGRONEWS