Preço do arroz em queda preocupa produtor gaúcho

O preço ainda em queda generalizada do arroz aperta as margens e desafia os orizicultores

Preço do arroz em queda preocupa produtor gaúcho
Ilustrativa

O arroz é a base da alimentação de milhões de brasileiros, e o Rio Grande do Sul é o coração dessa produção, respondendo por mais de 70% da safra nacional. No entanto, o cenário atual tem tirado o sono de muitos produtores. Nos últimos meses, uma combinação perigosa de custos de produção nas alturas e preços de venda em constante declínio tem criado uma tempestade perfeita para a orizicultura gaúcha.

A conta simplesmente não fecha, e as margens, que já eram apertadas, agora estão negativas, comprometendo a sustentabilidade da atividade. A situação de preço ainda em queda generalizada não é apenas um número em uma planilha, mas reflete a realidade de famílias que dedicam suas vidas à lavoura e que agora enfrentam um dos períodos mais desafiadores dos últimos tempos.

O que explica a pressão sobre o preço do arroz?

Entender a dinâmica do mercado do arroz é como montar um quebra-cabeça com peças que mudam de forma a cada safra. Atualmente, diversos fatores contribuem para a pressão negativa sobre as cotações. Uma oferta relativamente alta, fruto de boas produtividades em safras anteriores, pode ter deixado os estoques internos bem abastecidos. Quando há muito produto disponível no mercado, a tendência natural é que os preços caiam, seguindo a lei da oferta e da demanda. Além disso, a concorrência com o arroz importado de países do Mercosul, muitas vezes com custos de produção mais baixos, também exerce uma pressão sobre os valores praticados no mercado nacional.

Apesar de alguns movimentos positivos, como volumes pontuais destinados à exportação e uma certa procura de outros estados por arroz gaúcho de maior qualidade, essas ações não têm sido suficientes para reverter o cenário. O mercado se mostra lento, e a liquidez é baixa, o que significa que os produtores encontram dificuldade para vender sua produção por um valor justo. O cenário de preço ainda em queda generalizada se consolida, exigindo do orizicultor uma gestão ainda mais eficiente e um olhar atento às tendências para tomar as melhores decisões.

Os custos de produção que não param de subir

Enquanto o preço da saca de arroz cai, os custos para produzi-la seguem o caminho inverso. Esse “efeito tesoura” é o que mais aperta o produtor, espremendo suas margens até se tornarem negativas. A maior parte dos insumos agrícolas tem seus preços atrelados ao dólar, o que torna a atividade vulnerável às flutuações cambiais. Quando o dólar sobe, os custos disparam, mas nem sempre o preço de venda do arroz acompanha essa valorização. É uma equação complexa que, nos últimos meses, tem resultado em prejuízo.

Para entender melhor o dia a dia do produtor, basta olhar para os principais componentes do custo de produção da lavoura de arroz:

  • Fertilizantes e defensivos agrícolas, essenciais para garantir a produtividade e a sanidade da lavoura, cujos preços são diretamente influenciados pelo mercado internacional;
  • Combustível, especialmente o óleo diesel, que alimenta tratores, colheitadeiras e outros maquinários, impactando desde o preparo do solo até a colheita;
  • Energia elétrica, um custo significativo para os produtores que utilizam sistemas de irrigação, método fundamental para a cultura do arroz no Rio Grande do Sul;
  • Manutenção de equipamentos, sementes e mão de obra, que também pesam no orçamento da fazenda e sofreram com a inflação geral.

Por que o preço ainda em queda generalizada?

A persistência do cenário de preço ainda em queda generalizada pode ser atribuída a uma combinação de fatores macro e microeconômicos. Do lado da oferta, como mencionado, os estoques confortáveis e a perspectiva de uma nova safra podem desestimular a alta das cotações. Os compradores, cientes dessa disponibilidade, tendem a oferecer valores mais baixos, pressionando o mercado. Do lado da demanda, o consumo de arroz no Brasil é relativamente estável, sem grandes picos que poderiam impulsionar os preços para cima. A renda da população também influencia, pois em momentos de aperto econômico, os consumidores buscam alternativas, embora o arroz continue sendo um item básico na cesta.

O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, acompanha de perto essa realidade e traz números que a materializam. A análise dos dados de custo versus preço de venda revela a gravidade da situação. Essa conjuntura de preço ainda em queda generalizada coloca em risco não apenas a safra atual, mas também o planejamento para os próximos ciclos, já que o desestímulo financeiro pode levar a uma redução da área plantada no futuro, afetando todo o equilíbrio da cadeia.

A matemática que não fecha em Uruguaiana e Camaquã

Os dados divulgados pelo Cepea transformam a percepção da crise em fatos concretos e alarmantes. A pesquisa detalha o descompasso entre o que o produtor gasta para plantar e colher e o que ele recebe ao vender o arroz em casca. Para entender os números, é importante diferenciar o custo operacional, que é o desembolso direto para a safra, do custo total, que inclui também a depreciação de máquinas e outras despesas indiretas. O ideal é que o preço de venda cubra, no mínimo, o custo total, para que a atividade seja sustentável a longo prazo.

Segundo os dados mais recentes da Equipe de Custos Agrícolas do Cepea, considerando-se as aquisições de todos os insumos realizadas em outubro/25, o preço de nivelamento sobre o custo operacional (desembolso) foi calculado pelo Cepea para a região de Uruguaiana (RS) em R$ 66,71/saca de 50 kg e, sobre o custo total, em R$ 93,19/sc. Em Camaquã (RS), esses custos ficaram em R$ 61,73/sc e R$ 87,88/sc, respectivamente. Já quanto às médias de preços de venda do arroz, na parcial de novembro (até o dia 21), foram de R$ 54,85/sc na região de Uruguaiana e de R$ 58,40/sc na de Camaquã.

Na prática, isso significa que em Uruguaiana, o produtor está recebendo R$ 38,34 a menos por saca do que seu custo total de produção. Em Camaquã, o prejuízo é de R$ 29,48 por saca. Essa situação se arrasta há quase um ano, configurando o décimo mês consecutivo de margem negativa para os produtores de Uruguaiana e o nono para os de Camaquã. É um fôlego financeiro que está se esgotando.

Buscando alternativas para driblar a crise

Apesar do cenário adverso, o produtor rural brasileiro é conhecido por sua resiliência e capacidade de inovação. Para enfrentar a crise, a gestão eficiente da propriedade se torna ainda mais crucial. Isso envolve um planejamento rigoroso dos custos, a busca por insumos com melhor custo-benefício e a adoção de tecnologias de agricultura de precisão para otimizar o uso de fertilizantes e água. A pesquisa também desempenha um papel fundamental. Instituições como a Embrapa trabalham no desenvolvimento de cultivares de arroz mais produtivas e resistentes a pragas e estresses climáticos, o que pode ajudar a diluir os custos fixos e aumentar a rentabilidade. Além disso, políticas públicas de apoio ao setor, como seguro rural e mecanismos de garantia de preços mínimos, são ferramentas importantes para dar segurança ao produtor em momentos de instabilidade.

O cenário de preço ainda em queda generalizada do arroz no Rio Grande do Sul é um sinal de alerta para toda a cadeia produtiva. A crise na lavoura não afeta apenas o produtor, mas também a economia dos municípios que dependem da orizicultura, os empregos gerados e, em última instância, a segurança alimentar do país. A superação deste ciclo de baixa exige uma ação coordenada e a união de esforços entre produtores, indústria, cooperativas, centros de pesquisa e governo. 

AGRONEWS