Poder de compra do suinocultor: desafios em outubro

O poder de compra se enfraquece em outubro, e o produtor sente a pressão no caixa

Poder de compra do suinocultor: desafios em outubro
Ilustrativa

Para o suinocultor paulista, o mês de outubro trouxe um cenário de alerta. A conta, que parecia fechar com mais folga nos meses anteriores, agora está mais apertada. A relação de troca, que é a capacidade do produtor de comprar insumos com o valor da venda de seu produto, piorou.

Em termos simples, o dinheiro recebido por cada suíno vendido está comprando menos milho e farelo de soja, os principais componentes da ração. Um levantamento recente do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP) confirma essa percepção do campo, indicando um cenário onde o poder de compra se enfraquece em outubro, exigindo atenção e planejamento redobrados do produtor para manter a saúde financeira da granja.

A dinâmica do mercado: por que o suíno está mais barato?

Um dos lados dessa equação é o preço do suíno vivo, que vem registrando desvalorização. Segundo o Cepea, esse movimento reflete uma demanda doméstica mais fraca pela carne suína. Diversos fatores podem contribuir para esse desaquecimento, como a renda da população, que tradicionalmente fica mais comprometida no fim do mês, e a forte concorrência com outras proteínas, especialmente a carne de frango, que muitas vezes se apresenta como uma alternativa mais acessível ao consumidor.

Quando a procura no varejo diminui, os frigoríficos e outros compradores reduzem seus volumes de compra ou pressionam os preços para baixo na negociação com o produtor. Esse efeito em cascata chega diretamente à porteira da fazenda, impactando a receita do suinocultor. Sem uma demanda robusta para absorver a oferta de animais prontos para o abate, a tendência natural é de queda nos preços pagos pelo suíno vivo, o que complica o planejamento financeiro de quem produz.

O peso do milho e do farelo de soja na produção

Se o preço de venda caiu, o cenário ideal seria uma queda equivalente nos custos de produção. No entanto, não é o que está acontecendo. A alimentação representa a maior fatia dos custos na suinocultura, podendo chegar a mais de 70% do total. Os dois principais ingredientes da ração, o milho (fonte de energia) e o farelo de soja (fonte de proteína), são commodities com preços atrelados a mercados voláteis, influenciados pelo clima, safra, dólar e demanda internacional.

Em outubro, enquanto o preço do suíno recuou, o milho apresentou uma ligeira alta, pressionando ainda mais as margens do produtor. O farelo de soja até registrou queda, mas de forma menos intensa que a desvalorização do animal. Para o suinocultor, essa combinação é desafiadora e impacta diretamente as decisões diárias na granja.

  • Planejamento de compras: Decidir o momento certo para comprar milho e farelo de soja se torna uma tarefa estratégica, buscando travar preços em momentos mais favoráveis.
  • Gestão de estoque: Manter um estoque de insumos pode proteger contra altas repentinas, mas exige capital de giro e estrutura de armazenagem adequada.
  • Formulação da ração: Pequenos ajustes na dieta, sem comprometer o desempenho dos animais, podem ser necessários para otimizar os custos.
  • Fluxo de caixa: Com a receita em baixa e os custos pressionados, o controle do fluxo de caixa é fundamental para honrar os compromissos e manter a operação.

Análise: por que o poder de compra se enfraquece em outubro?

A resposta para por que o poder de compra se enfraquece em outubro está justamente na combinação desses dois movimentos opostos: a queda no preço do produto final e a manutenção ou leve alta no custo dos principais insumos. A relação de troca, que mede quantos quilos de milho, por exemplo, um produtor consegue comprar com a venda de um quilo de suíno vivo, diminuiu. Isso significa que é preciso vender mais suínos para comprar a mesma quantidade de ração do mês anterior.

Pesquisadores ressaltam que, apesar da queda no poder de compra frente ao milho em outubro, o desempenho segue acima da média, considerando-se a série histórica do Cepea, iniciada em janeiro de 2004.

Essa citação do Cepea é crucial. Ela mostra que, embora a situação atual seja de aperto, o contexto histórico ainda é relativamente favorável. Contudo, para o produtor que precisa fechar as contas do mês, a realidade imediata é a que importa. Quando o valor do animal cai e o custo da comida sobe, mesmo que pouco, fica claro que o poder de compra se enfraquece em outubro, exigindo uma gestão ainda mais eficiente e atenta.

Uma perspectiva histórica: nem tudo são más notícias

Apesar do cenário desafiador do mês, é importante colocar os números em perspectiva. Mesmo com a queda recente, o poder de compra do suinocultor em 2025 ainda se mantém acima da média histórica. Isso indica que o setor já enfrentou períodos muito mais difíceis, com margens ainda mais espremidas. O agronegócio é marcado por ciclos de alta e baixa, e a suinocultura não é exceção.

Produtores experientes sabem que a volatilidade faz parte do jogo. A capacidade de se adaptar, de gerenciar custos com rigor e de aproveitar os períodos de preços favoráveis para criar uma reserva financeira é o que garante a sustentabilidade da atividade no longo prazo. Portanto, a notícia de que o poder de compra se enfraquece em outubro serve como um sinal de alerta para ajustar a rota, mas não como um motivo para pessimismo generalizado, pois o histórico mostra a resiliência do setor.

Estratégias para navegar em tempos de margens apertadas

Em momentos como este, a eficiência dentro da granja se torna a palavra de ordem. Focar na gestão é o caminho para atravessar a turbulência e sair mais forte. A busca por melhores índices zootécnicos, como conversão alimentar e ganho de peso diário, ajuda a diluir os custos com a ração. Investir em sanidade e bem-estar animal também é crucial, pois animais saudáveis são mais produtivos e geram menos perdas.

Além disso, o produtor pode explorar outras ferramentas de gestão, como a compra de insumos em grupo para obter melhores preços ou o uso de mercados futuros para se proteger da oscilação de preços das commodities. Acompanhar as informações de mercado e buscar conhecimento técnico são atitudes que fazem a diferença. Instituições como a Embrapa Suínos e Aves oferecem vasto material técnico que pode auxiliar o produtor a otimizar seus processos e a tomar decisões mais assertivas.

Entender que o poder de compra se enfraquece em outubro é o primeiro passo para agir. O cenário atual, com a queda no preço do suíno e a pressão dos custos de alimentação, exige do suinocultor paulista o que ele já faz de melhor: resiliência, planejamento e uma gestão cada vez mais profissional. Ao olhar para o histórico e focar na eficiência da porteira para dentro, é possível navegar por este momento desafiador e preparar a granja para os próximos ciclos do mercado.

AGRONEWS