Lideranças nos EUA dizem que a carne importada “prejudica os pecuaristas e engana os consumidores”

Produtores norte-americanos lançam a campanha “Reforma da inspeção de carne bovina”, que tem como objetivo “restaurar a transparência no sistema de inspeção e rotulagem da proteína no mercado local”

Lideranças nos EUA dizem que a carne importada “prejudica os pecuaristas e engana os consumidores”
Ilustrativa

“A carne bovina importada entra nos EUA com inspeção deficiente, engana os consumidores, prejudica os pecuaristas e mina a confiança na carne bovina norte-americana”.

A frase foi mencionada pelo pecuarista Patrick Robinette, de Pinetops, Carolina do Norte, que recentemente lançou uma campanha nas redes sociais — “Reforma da inspeção de carne bovina”  —, destinada a abordar um dos temas mais polêmicos do setor: a importação da proteína por parte dos EUA.

Em artigo publicado no portal da revista Beef, o jornalista Clint Peck, um experiente analista do setor, conta, em detalhes,  as ações de alguns pecuaristas contra a carne bovina importada, citando também outros produtores que carregam a mesma bandeira, como Robert Groom, de Lyons, Nova York, e Larry Kendig, de Osborn, Kansas. 

“Restaurar a transparência no sistema de inspeção e rotulagem de carne bovina dos Estados Unidos é o objetivo do movimento”, esclareceu Peck.

Na visão de Robinette, a maioria dos pecuaristas norte-americanos “não sabe como funciona a indústria da carne e simplesmente deixa tudo acontecer.” 

“Depois, começamos a analisar como a carne bovina estrangeira entra nos EUA e ficamos impressionados com a flexibilidade dos protocolos de importação e com o impacto que a carne bovina importada está causando na indústria pecuária americana”, disse Robinette.

Segundo Peck, o líder do movimento é proprietário de uma fazenda de cria, com sistema de engorda a pasto, além de possuir um frigorífico de carne bovina inspecionado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). 

Robinette comercializa a carne tanto diretamente ao consumidor quanto por meio de pontos de venda regionais — também exporta a mercadoria para a China, na ordem de cerca de 40.000 libras de carne bovina e subprodutos bovinos por semana. 

A questão central, relatou Peck, é o Título 9, Parte 327 do Código de Regulamentações Federais dos EUA (CFR), que estabelece regras destinadas a garantir que os produtos de carne e aves importados atendam a padrões de segurança e inspeção equivalentes aos da carne e aves produzidas internamente. 

“A reclamação de Robinette se refere especificamente à Parte 327.6 do regulamento, que afirma que ‘todos os produtos oferecidos para entrada provenientes de qualquer país estrangeiro devem ser reinspecionados por um inspetor do Programa (FSIS) antes de serem autorizados a entrar nos Estados Unidos’”, observou o jornalista. 

Robinette advertiu: “A lei é muito clara: 100% da carne importada precisa ser inspecionada fisicamente ao chegar em solo americano; isso não está acontecendo, e é por isso que estamos pedindo uma reforma.”

Segundo o artigo de Peck, o líder do movimento afirmou que os “padrões de equivalência impostos aos sistemas de inspeção de carne em outros países são irrelevantes quando se trata de como a carne é inspecionada ao chegar aos EUA”. 

“Não nos importam os padrões de equivalência ou as auditorias de segurança realizadas em outros países”, disse Robinette, acrescentando: “Queremos ter certeza de que, antes de os produtos importados saírem do porto de entrada, 100% deles sejam reinspecionados e identificados como carne estrangeira na fronteira dos EUA por inspetores americanos.” 

Exigência de rótulos

Ainda de acordo com o artigo de Peck publicado no portal da Beef, Robinette e seus companheiros também estão lutando contra um sistema que permite que produtos cárneos importados que sofrem “transformação substancial” sejam rotulados como produtos dos EUA. 

Transformação substancial, esclareceu o pecuarista, “significa que os produtos sofreram uma mudança fundamental em forma, aparência, natureza ou caráter”. 

Peck ainda relatou que Robinette mencionou casos judiciais históricos que estabelecem o que significa transformação substancial — desde solados de sapatos importados na década de 1980, até importações de suco de laranja na década de 1990. 

No entendimento de Robinette, esses casos demonstram que “a maioria da carne bovina importada para os EUA não deveria ter permissão para ostentar o rótulo ‘Produto dos EUA’”. 

Robinette também afirmou que o selo obrigatório “Inspecionado e Aprovado pelos EUA” afixado nas embalagens de carne tende a induzir os consumidores ao erro, fazendo-os pensar que o produto é de origem norte-americana. 

“O grupo de Robinette não está pedindo o descarte do selo do USDA; eles simplesmente querem que os produtos cárneos sejam rotulados de forma mais clara quanto à sua origem”, observou o artigo de Peck.

“O FSIS permitiu que a carne importada perdesse seus rótulos de origem originais”, explicou Robinette. “Essa decisão definiu a trajetória de crescimento das importações e das disparidades de preços.” 

Robinette disse, porém, que o movimento liderado por ele nada tem a ver com “protecionismo”. 

Em seu artigo, Peck reproduz mais uma frase de Robinette: “Simplesmente queremos que o USDA-FSIS siga a legislação vigente e implemente regras que protejam os consumidores americanos e nossa indústria pecuária dos efeitos da carne bovina não inspecionada.”