Mapa vai buscar novos mercados e mira três frentes para substituir exportações aos EUA
Setor de pesca foi o primeiro no Brasil a sofrer impacto direto da medida de Trump, que agora taxa o Canadá em 35 porcento

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) anunciou que irá buscar novos mercados para minimizar os impactos das tarifas de 50% anunciadas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.
O ministro Carlos Fávaro afirmou nesta quinta-feira (10) que o governo já atua em três frentes prioritárias: Oriente Médio, Sul Asiático e Sul Global, considerados polos de alto potencial consumidor.
“Vou reforçar essas ações, buscando os mercados mais importantes do Oriente Médio, do Sul Asiático e do Sul Global, que têm grande potencial consumidor e podem ser uma alternativa para as exportações brasileiras. As ações diplomáticas do Brasil estão sendo tomadas em reciprocidade. As ações proativas vão acontecer aqui no Ministério da Agricultura e Pecuária para minimizar os impactos”, afirmou o ministro Carlos Fávaro, em pronunciamento nas redes sociais.
Fávaro relatou que, ainda nesta quinta, telefonou para lideranças dos principais setores afetados, como os exportadores de suco de laranja, carne bovina e café. A intenção é acelerar medidas de ampliação de mercados e redução de barreiras comerciais, articuladas desde o início do governo Lula.
“Telefonei para as principais entidades representativas dos setores mais afetados, o setor de suco de laranja, o setor de carne bovina e o setor de café, para que possamos, juntos, ampliar as ações que já estamos realizando nos dois anos e meio do governo do presidente Lula: em ampliar mercados, reduzir barreiras comerciais e dar oportunidade de crescimento para a agropecuária brasileira”, afirmou.
O ministro também disse que convocará reuniões com representantes dessas cadeias produtivas. Ele classificou a tarifa imposta por Donald Trump como “indecente” e defendeu a atuação proativa do governo brasileiro. Foi uma resposta ao pedido de cautela feita pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
“Enquanto alguns comemoram, vamos trabalhar pelo produtor. Nada de cautela, reciprocidade não é cautela. [Precisamos] ser proativos”.
Carne, café, etanol e suco lideram impacto
A taxação causa preocupação no setor no Brasil. Os principais produtos agropecuários exportados para os Estados Unidos incluem carne bovina, café, açúcar, etanol e suco de laranja. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) alerta que a nova tarifa tornará o custo da carne brasileira inviável para o mercado americano.
A Federação dos Plantadores de Cana do Brasil (Feplana) e a Organização de Associações de Produtores de Cana (Orplana) também manifestaram preocupação.
Segundo as entidades, a medida compromete a exportação de etanol e prejudica os avanços ambientais na substituição de combustíveis fósseis. “Trata-se de uma tarifa que pode afetar diretamente o setor sucroenergético, comprometendo o equilíbrio comercial entre os dois países e penalizando o consumidor norte-americano com preços mais altos de combustível e açúcar”, afirmou José Guilherme Nogueira, CEO da Orplana.
O impacto é expressivo: 98% do suco de laranja produzido no Brasil é exportado, sendo que 37% desse total vai para os Estados Unidos. No café, quase 15% das exportações brasileiras têm como destino o mercado americano.
Exportações de pescado já são afetadas
Um dos primeiros setores a sofrer impacto direto foi o da pesca. Ao todo, 58 contêineres frigoríficos com aproximadamente mil toneladas de peixes deixaram de embarcar rumo aos EUA. As cargas estão paradas em portos como Salvador (BA), Pecém (CE) e Suape (PE), aguardando definição sobre os efeitos da tarifa.
"A verdade é que o setor está desesperado, porque tudo parou nas exportações e isso vai se complicar ainda mais, se não houver uma solução urgente. A suspensão dos embarques partiu dos próprios compradores, porque ainda não sabem quanto pagarão pelos pescados", afirmou o presidente da Abipesca, Eduardo Lobo Naslavsky, à Folha de S. Paulo.
No caso dos peixes congelados, o tempo de transporte até os EUA varia entre 20 e 40 dias. Se as cargas não chegarem antes de 1º de agosto, há risco de prejuízo total. As vendas de peixes frescos continuam por ora, mas devem ser interrompidas em até 20 dias.
Atualmente, o mercado norte-americano responde por cerca de 70% das exportações brasileiras de pescados, com receita anual superior a US$ 240 milhões.
O impacto atinge toda a cadeia: indústrias, pescadores artesanais e a aquicultura familiar. A Abipesca defende que o governo acelere negociações com o mercado europeu como alternativa. “A morosidade dessa tratativa, em momentos como este, demonstra a importância de reduzir a dependência de mercados específicos para o pescado brasileiro”, apontou a entidade.
Reação oficial: Brasil recorrerá à OMC
Buscando uma solução, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em entrevista à Record TV, que o governo brasileiro apresentará uma reclamação formal à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as tarifas impostas pelos EUA. Caso não haja acordo, o Brasil deverá aplicar medidas de retaliação proporcionais.
"Não tenha dúvida que, primeiro, nós vamos tentar negociar. Mas, se não tiver negociação, a Lei da Reciprocidade será colocada em prática. Se ele vai cobrar 50% de nós, nós vamos cobrar 50% dele", disse Lula.
A intenção do governo é articular o recurso à OMC com outros países também afetados pela medida. A Lei da Reciprocidade, sancionada em abril, permite suspender concessões comerciais, investimentos e obrigações sobre propriedade intelectual em resposta a sanções unilaterais contra o Brasil.
Trump amplia ofensiva e taxa também o Canadá
Além do Brasil, o governo norte-americano anunciou nesta sexta-feira (11) nova tarifa de 35% sobre produtos importados do Canadá, também com vigência a partir de 1º de agosto. Produtos em conformidade com o Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA) estão temporariamente isentos, mas essa situação poderá mudar.
A justificativa, segundo Trump, é “lidar com a crise nacional de fentanil”. Ele afirma que o Canadá não impediu o fluxo de drogas para os Estados Unidos e criticou a resposta canadense: “Em vez de trabalhar com os Estados Unidos, o Canadá retaliou com suas próprias tarifas”, escreveu em carta enviada ao primeiro-ministro Mark Carney.
Esta é a 23ª carta enviada por Trump a líderes mundiais informando tarifas previstas para 1º de agosto, caso não haja acordo comercial com os EUA.
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