Credores aprovam falência do Grupo Pupin, do “Rei do Algodão”; passivo pode chegar a R$ 5,9 bilhões

Conversão da recuperação judicial em falência foi aprovada por unanimidade, após estudo apontar inviabilidade total das operações

Credores aprovam falência do Grupo Pupin, do “Rei do Algodão”; passivo pode chegar a R$ 5,9 bilhões
Ilustrativa

Os credores do Grupo Pupin aprovaram por unanimidade, em reunião extraordinária realizada na primeira semana de dezembro, a conversão da recuperação judicial em falência. 

O conglomerado pertence ao empresário José Pupin, conhecido no setor como o “Rei do Algodão”, que já esteve entre os maiores produtores da fibra no país.

As informações foram divulgadas pelo Globo Rural. 

A decisão foi tomada após a análise de um estudo técnico que apontou a inviabilidade total das operações do grupo. De acordo com o relatório, a empresa apresenta um passivo estimado em R$ 3,5 bilhões, montante 22% superior aos ativos declarados, além de 318 credores com pagamentos vencidos. 

O cenário financeiro pode se agravar ainda mais. Com a eventual decretação judicial da falência, haverá a reversão dos deságios concedidos no processo de recuperação, o que pode fazer a dívida total do grupo saltar para R$ 5,9 bilhões.

O estudo analisado pelos credores reuniu demonstrativos contábeis, movimentações bancárias, projeções financeiras e outros documentos. Segundo o levantamento, o Grupo Pupin não possui atividade operacional desde 2019 e não dispõe de máquinas, equipes nem estrutura mínima para a retomada das operações no médio e longo prazo. 

As receitas projetadas, da ordem de R$ 70 milhões nos próximos 37 meses, decorrem apenas de contratos de arrendamento já firmados — valor considerado insuficiente para sustentar qualquer plano de recuperação. Parte significativa dos recebíveis, inclusive, encontra-se penhorada em execuções de créditos extraconcursais. 

Dívida extraconcursal pressiona ainda mais o caixa 

Além da dívida inserida na recuperação judicial, o grupo acumula cerca de R$ 1,85 bilhão em débitos extraconcursais, sujeitos a juros de 1% ao mês e correção pelo INPC ao longo dos próximos 36 meses.

Esse fator pode representar um acréscimo adicional de R$ 1,3 bilhão, enquanto as receitas projetadas cobririam apenas 5% do valor necessário para arcar com esses encargos. 

O estudo aponta ainda que, em caso de liquidação dos ativos pelo valor de mercado, estimado em R$ 2,89 bilhões, seria possível quitar integralmente os credores extraconcursais, os trabalhistas (classe I) e cerca de 83% dos credores com garantia real (classe II).

As demais classes ficariam sem recebimento. 

Movimentações suspeitas e uso de contas paralelas 

Outro ponto considerado crítico pelo comitê de credores envolve movimentações financeiras realizadas fora do processo oficial da recuperação judicial.

Segundo o relatório, foram identificadas operações que somam R$ 430 milhões em contas vinculadas à empresa José Pupin & Cia, além de transferências superiores a R$ 95 milhões para Gustavo Camargo Pupin e seu núcleo familiar, sem lastro documental comprovado. 

O comitê também apontou uso de recursos da recuperação judicial para pagamento de dívidas pessoais de familiares de José Pupin e Marisa Camargo Pupin, o que reforçou a avaliação de inviabilidade do grupo. 

O Estado de Mato Grosso, por meio da Procuradoria-Geral do Estado (PGE), já havia solicitado a falência do grupo em novembro. O órgão aponta o descumprimento de obrigações fiscais da ordem de R$ 274 milhões, além da falta de pagamento a credores com garantia, o que considera como evidência do fracasso do plano de recuperação judicial. 

O fim de um império do algodão 

O Grupo Pupin já figurou entre os maiores produtores de algodão do Brasil, com controle de mais de 110 mil hectares de área plantada e forte presença no agronegócio do Centro-Oeste. 

Com a falência, o cenário agora é de desmonte de ativos, incluindo terras, maquinário, contratos e estruturas produtivas, com impactos diretos sobre fornecedores, cooperativas, trabalhadores rurais e prestadores de serviço ligados à cadeia do grupo. 

A liquidação das áreas e unidades produtivas pode abrir oportunidades de compra para investidores, mas também tende a gerar instabilidade regional, desemprego e reestruturações nas cadeias produtivas locais. 

Após a deliberação dos credores, o processo agora segue para análise da 1ª Vara Cível de Campo Verde (MT), responsável pela condução da recuperação judicial, que irá decidir formalmente sobre a decretação da falência.