Agrishow fecha acordo com o MPT e muda modelo de segurança em 2026

Acordo cria fiscalização inédita com perito independente e poder de embargo na montagem da feira

Agrishow fecha acordo com o MPT e muda modelo de segurança em 2026
Ilustrativa

Depois de mais de uma década de batalhas judiciais, o Ministério Público do Trabalho (MPT) e os organizadores da Agrishow firmaram um acordo para padronizar e reforçar as normas de segurança na montagem e desmontagem da maior feira do agronegócio da América Latina.

A última edição, em abril deste ano, teve visitação média de 200 mil pessoas e R$ 14,6 bilhões em intenção de negócios acordados.

A edição de 2026 está marcada para 27 de abril até 1 de maio.

A conciliação, homologada no fim de novembro, encerra a ação civil pública movida em 2023, mas representa o desfecho de um litígio iniciado em 2013, uma trajetória marcada por acidentes, pesada fiscalização e sucessivas medidas judiciais.

A origem do conflito remonta há 12 anos, quando o MPT ajuizou sua primeira ação contra a feira, apontando descumprimento de normas de trabalho em altura.

Desde então, mesmo com compromissos firmados ao longo dos anos, episódios de quedas, choques elétricos e outras irregularidades persistiram, levando o órgão a retomar a ofensiva judicial em 2023. A partir de então, nasceu o modelo definitivo de fiscalização, considerado pioneiro no país.

Perito com poder de polícia

O acordo firmado entre o MPT, a Informa Markets Ltda., Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA) e a Sociedade Rural Brasileira (SRB) estabelece uma estrutura rigorosa de monitoramento que passa a valer integralmente a partir de 2026.

O eixo central do pacto é a criação de um perito judicial independente, indicado pela Vara do Trabalho de Ribeirão Preto, que acompanhará diariamente as obras da feira, com autonomia plena para suspender atividades consideradas inseguras.

Ao contrário dos modelos anteriores, este perito poderá embargar estandes, expulsar equipes irregulares e ordenar a retirada de empresas que descumprirem normas trabalhistas, funcionando como uma espécie de “poder de polícia” técnico dentro do parque.

“Este acordo consolida mais de uma década de atuação do MPT. Saímos de um modelo tradicional de fiscalização para algo pioneiro na América Latina”, afirma o procurador Henrique Correia, responsável pelo caso.

Entrada mais rígida, auditoria prévia e treinamentos obrigatórios

De acordo com matéria publicada pelo G1, as novas exigências começam antes mesmo do início das obras.

As empresas contratadas para a montagem e desmontagem dos estandes terão sua documentação trabalhista e de segurança auditada na portaria do parque. Quem não comprovar conformidade será barrado imediatamente.

Além disso, todos os trabalhadores deverão passar por treinamentos de integração obrigatórios, com ênfase em prevenção de acidentes, uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e procedimentos emergenciais.

A necessidade dessa rigidez ficou evidente após uma sequência de ocorrências graves nos últimos anos, incluindo quedas de estruturas, eletrocussões e falhas de proteção coletiva.

No caso mais recente, um trabalhador de 25 anos morreu após sofrer um acidente com maquinário durante a desmontagem de um dos estandes, em maio deste ano.

Em 2024, outro acidente fatal marcou o encerramento da Agrishow. O trabalhador Márcio Sabino Silva morreu após ser atingido por uma estrutura que desabou com o vento provocado pelas hélices de um helicóptero que pousava no local.

Plano de Ação, equipes de resgate e canal de denúncias

Outro pilar do acordo é a apresentação de um Plano de Ação detalhado pelas organizadoras 60 dias antes da feira. O documento deverá conter cronograma de obras, estratégias de mitigação de riscos, plantas dos estandes e comprovação de regularidade das empresas contratadas.

Durante toda a fase de montagem e desmontagem, equipes de emergência, como bombeiros civis, ambulâncias e brigadistas, deverão estar presentes de forma permanente, garantindo resposta rápida a qualquer acidente.

Para ampliar a transparência, foi criado ainda um canal de denúncias acessível via 0800, site e WhatsApp, permitindo que trabalhadores e visitantes reportem irregularidades de forma anônima.

Qualquer violação do acordo poderá gerar multas e execução judicial imediata.

Novo sarrafo

O pacto entre MPT e Agrishow pode se tornar referência nacional para outros eventos de grande porte que envolvem estruturas complexas e riscos elevados. 

Ao unir fiscalização tradicional, controle judicial e autonomia técnica, ele cria uma espécie de “modelo híbrido” que promete transformar a cultura de segurança em megaeventos agrícolas e corporativos.