Gargalos nos portos causam prejuízo de R$ 8,7 milhões a exportadores de café

Atrasos, armazenagem adicional e falhas na infraestrutura impediram o embarque de mais de 680 mil sacas em outubro

Gargalos nos portos causam prejuízo de R$ 8,7 milhões a exportadores de café
Ilustrativa

Os gargalos logísticos e a infraestrutura defasada dos portos brasileiros voltaram a pesar no bolso do setor cafeeiro.

Apenas em outubro, exportadores ligados ao Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) contabilizaram perdas de R$ 8,7 milhões decorrentes de atrasos, rolagens de cargas e armazenagens adicionais.

O levantamento considera 2.065 contêineres que não conseguiram embarcar no período, volume equivalente a 681,5 mil sacas de 60 kg.

A incapacidade de exportar esse contingente de café representa um impacto muito maior quando convertida em receita cambial.

Segundo o Cecafé, o país deixou de receber US$ 278,08 milhões, o equivalente a R$ 1,497 bilhão, considerando o preço médio de US$ 407,99 por saca e a cotação média do dólar no mês, que ficou em R$ 5,38.

Para Eduardo Heron, diretor técnico do conselho da entidade, o cenário se agrava ano após ano, especialmente no Porto de Santos, responsável pela maior fatia dos embarques de café no Brasil. 

“A infraestrutura dos portos brasileiros está em colapso, e Santos é o retrato mais evidente dessa deterioração. A tendência é piorar, principalmente com o atraso na oferta de pátio e berço no Terminal de Contêineres (Tecon) Santos 10”, afirmou, em entrevista publicada no site da instituição.

Santos lidera atrasos e concentra perdas

O Boletim DTZ, produzido pela ElloX Digital em parceria com o Cecafé, indica que 52% dos navios que operaram nos principais portos do país em outubro sofreram atrasos ou mudanças de escala.

Em Santos, onde passam 79% das exportações de café, o índice foi ainda mais preocupante: 73% das embarcações, 148 de um total de 203, tiveram algum tipo de alteração no cronograma. Em um dos casos mais extremos, o porta-contêiner MSC Edna aguardou 61 dias para conseguir operar.

O levantamento também mostra um aperto nos prazos de gate aberto para embarque: em Santos, apenas 3% dos navios ofereceram mais de quatro dias de janela, enquanto 49% disponibilizaram menos de dois dias, dificultando o planejamento das empresas e aumentando custos operacionais.

Rio de Janeiro também enfrenta gargalos

Segundo maior corredor de exportação de café do país, com 17,4% de participação entre janeiro e outubro, o Rio de Janeiro também registrou atrasos significativos.

No mês analisado, 30% dos navios tiveram mudanças de escala, com um intervalo máximo de 77 dias entre o primeiro e o último deadline, registrado no navio Brooklyn Bridge.

Os prazos de gate aberto igualmente permaneceram restritos: 22% dos casos ultrapassaram quatro dias; metade se manteve entre três e quatro dias; e 30% teve menos de dois dias de janela.

O Cecafé reforça que o quadro exige ação urgente e coordenada entre governo, autoridades portuárias e operadores privados para evitar novas perdas bilionárias e garantir que o café brasileiro, líder global em produção e exportação, continue chegando aos mercados internacionais com competitividade.