Estados do Sul e MS se unem pela Ferrosul e pressionam por novo modelo de concessão ferroviária
Autoridades querem protagonismo nas decisões e garantias de investimento regional na renovação da Malha Sul

Os três estados do Sul — Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul — firmaram um compromisso conjunto com o Mato Grosso do Sul para atuar de forma coordenada na renovação das concessões ferroviárias e na criação da Ferrosul, uma malha integrada entre os quatro estados.
O encontro técnico, realizado nesta terça-feira (8) em Florianópolis, reuniu os governadores Eduardo Leite (RS) e Jorginho Mello (SC), além de secretários estaduais e representantes dos governos do Paraná e Mato Grosso do Sul.
Durante a reunião, os estados decidiram criar uma comissão técnica oficial para participar do debate nacional sobre a renovação das concessões ferroviárias, com foco especial na Malha Sul, cujo contrato atual expira em 2027.
O grupo também vai coordenar a proposta de criação da Ferrosul, reforçando a integração logística da região.
“Foi decidido que nós vamos criar uma comissão técnica agora, formada pelos quatro estados, de forma legalizada. Baseada em uma carta, dizendo a intenção dos quatro governadores em trabalhar esse assunto de forma conjunta. Só assim nós entendemos que vamos de uma vez por todas fazer o assunto andar. Entendemos que isso é vital para a nossa economia. Por isso tomamos essa iniciativa”, resumiu o governador Jorginho Mello.
Segundo o secretario de Portos, Aeroportos e Ferrovias de Santa Catarina, Beto Martins, a união dos quatro estados vai mudar totalmente a capacidade de negociação.
“Agora todos vão saber que nós temos quatro estados que são muito importantes para o país, estados que têm uma grande capacidade de desenvolvimento econômico e que vão estar unidos para discutir a malha ferroviária. A verdade é que os nossos estados não têm recebido há décadas a atenção que merece no que diz respeito a sua eficiência logística”, avaliou.
Situação crítica no Rio Grande do Sul
A renovação da concessão operada pela Rumo Logística, que controla 7,2 mil quilômetros de trilhos em quatro estados — incluindo toda a região Sul —, foi um dos principais pontos da discussão.
No Rio Grande do Sul, a situação é alarmante: dos 3.823 quilômetros originalmente concedidos, apenas 921 estão operacionais após os danos causados pelas enchentes de 2024, segundo apontamento do governo estadual.
Segundo nota do governo gaúcho, a empresa já manifestou interesse em devolver parte da malha gaúcha à União, mantendo apenas o trecho entre Rio Grande e Cruz Alta — considerado mais rentável.
A proposta da Rumo para antecipar a renovação da concessão por mais 30 anos preocupa os estados. O temor é de que os valores da devolução onerosa, estimados em até R$ 2,8 bilhões, não sejam reinvestidos na região Sul, mas redirecionados para outros ativos da empresa.
Para o governador Eduardo Leite, o protagonismo da região é essencial no processo.
“A malha ferroviária gaúcha perdeu metade da sua movimentação nos últimos anos e está operando com baixa velocidade, alto custo e pouca integração. Não aceitaremos que essa concessão seja prorrogada sem compromissos concretos de investimento e planejamento. Os recursos da devolução precisam ser aplicados aqui, onde o prejuízo é real e onde há potencial de crescimento”, afirmou.
Propostas conjuntas e fundo regional
Entre os encaminhamentos, foi discutida a criação de um grupo técnico conjunto para acompanhar a modelagem da nova concessão e dialogar com o governo federal. Também foi sugerida a criação de um fundo específico para garantir que os recursos da devolução dos trechos inativos sejam aplicados regionalmente.
Os estados querem garantir que os impactos das enchentes de 2024, ainda não considerados nos estudos federais, sejam incorporados ao diagnóstico oficial da infraestrutura, evitando distorções na definição de prioridades.
Paraná destaca potencial logístico e obras em andamento
Para o Paraná, que figura entre os maiores exportadores de grãos do país, o transporte ferroviário é estratégico. O secretário de Infraestrutura e Logística, Sandro Alex, ressaltou que a atuação conjunta dará força às reivindicações regionais.
"Vamos trabalhar em conjunto. O governador Ratinho Junior se reuniu há poucos dias com o ministro dos Transportes, Renan Filho, que também está querendo discutir essa questão. Então há um entendimento de todas as partes para trabalhar pela melhor solução", afirmou.
Segundo ele, cerca de 15 milhões das quase 70 milhões de toneladas movimentadas anualmente pelo Porto de Paranaguá utilizam o modal ferroviário.
O Estado já investe na ampliação dessa capacidade com a construção do Moegão — obra de mais de R$ 590 milhões — e a desestatização da Ferroeste.
"A união dos estados do Sul e do Mato Grosso do Sul fortalece o projeto de expansão do modal do Paraná", completou.
Sandro Alex também defendeu solução para a concessão da Malha Sul no Paraná, que inclui o trecho da Serra do Mar. A Rumo opera cerca de 2 mil quilômetros de trilhos no Estado até 2027, enquanto a Ferroeste administra 248 quilômetros entre Cascavel e Guarapuava, podendo ser incluída no novo modelo de concessão.
Próximos passos
A partir da formalização da comissão, os quatro estados pretendem estabelecer uma mesa de diálogo com o governo federal.
A expectativa é alinhar uma proposta que contemple a modernização da malha existente, a recuperação de trechos danificados, a retomada de conexões interestaduais e a aplicação efetiva dos recursos da devolução nas regiões diretamente afetadas.
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