Justiça autoriza reativação da planta da Cosulati no Capão do Leão
Após anos de disputa judicial, usina de leite da Cosulati será reativada em Pelotas. Decisão beneficia ex-funcionários e deve movimentar a economia regional com novos empregos.
Após anos de paralisação e incertezas, a reativação do Complexo Industrial da Cosulati volta ao centro das atenções em Pelotas e região. A Justiça do Trabalho expediu, na última sexta-feira, a carta de arrematação da usina de beneficiamento de leite do Capão do Leão, vendida em leilão no final de 2024. A decisão encerra uma longa disputa jurídica e reacende a esperança de trabalhadores, produtores rurais e cooperativas pela retomada das atividades e da circulação econômica local.
A entrevista foi concedida por Lair de Mattos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias e Cooperativas da Alimentação de Pelotas e Região, ao programa Edição da Manhã, da RádioCom Pelotas. Ele detalhou os bastidores da decisão judicial, o impacto econômico da medida e os próximos passos para a reativação da planta industrial, que há três anos está desativada.
Justiça autoriza reativação imediata da planta
A carta de arrematação da unidade leiteira foi emitida pela juíza do trabalho Dra. Ana Ilca Harter Saalfeld, atendendo a requerimento do Sindicato da Alimentação e da empresa OZ Earth Participações, vencedora do leilão. Com a decisão, a empresa está legalmente autorizada a reativar o complexo industrial.
A magistrada determinou, entre outros pontos: “Autorizar a arrematante a iniciar as operações no complexo industrial, inclusive a realização de estudos, aquisição de maquinário e obras necessárias à reativação da planta, a fim de evitar a deterioração do bem e atender à função social e econômica da propriedade.”
Segundo Lair de Mattos, a carta representa o encerramento de uma fase de recursos movidos pela gestão liquidante da Cosulati. “Tentaram anular o leilão, mas os recursos foram negados. A juíza entendeu que não havia mais razão para postergar”, relatou.
Impacto financeiro e geração de empregos
A decisão judicial também estipulou um prazo de até 180 dias corridos para que a empresa arrematante efetue o pagamento dos valores devidos, estimados em R$ 49 milhões, que serão destinados ao pagamento de dívidas trabalhistas de ex-funcionários.
“São centenas de trabalhadores que têm valores a receber. Muitos saíram da Cosulati sem ver um centavo da rescisão. Agora, finalmente, poderão ter acesso ao que é seu por direito”, afirmou Lair.
Ele também ressaltou o impacto imediato na economia local: “Esse dinheiro vai circular aqui na região. Vai movimentar o comércio, os serviços, as pequenas lojas de bairro. É um retorno importante não só para quem trabalhou na Cosulati, mas para a comunidade como um todo.”

Início das atividades com foco no leite em pó
Inicialmente, a empresa deve retomar as atividades a partir da linha de produção de leite em pó, que é a parte da planta em melhores condições. “É o setor mais moderno, com equipamentos de aço inox, que resistiram bem ao tempo de paralisação”, explicou o dirigente sindical.
Outras áreas da fábrica, como a casa de máquinas, exigirão investimentos mais pesados devido à deterioração dos equipamentos. A expectativa, no entanto, é de crescimento gradual. “A meta da empresa é retomar também os produtos tradicionais da Cosulati, como a manteiga, o queijo, o iogurte e o leite UHT, que são mais intensivos em mão de obra”, afirmou.
Segundo projeções iniciais, a planta poderá empregar entre 150 e 200 trabalhadores assim que todas as linhas forem reativadas.
Tradição e qualidade reconhecidas
A OZ Earth Participações é um fundo de investimento com foco em produção sustentável e alimentos orgânicos. Segundo Lair, o interesse pela planta da Cosulati está diretamente ligado à qualidade reconhecida do leite produzido na região. “O leite aqui é superior por natureza — clima, pasto, genética. Isso sempre fez diferença.”
Ele destacou a saudosa manteiga Damby, produto símbolo da Cosulati. “Era naturalmente amarela, por conta do leite, não por corante. Quando a Damby sumiu do mercado, nunca mais encontramos uma igual.”
Mesmo com preços mais elevados, os produtos da Cosulati tinham alta demanda. “Vendiam tudo o que produziam. Às vezes os pedidos ultrapassavam a capacidade de entrega”, relatou.
Cadeia do leite na região ganha novo fôlego
A reabertura da planta no Capão do Leão representa um respiro para a cadeia leiteira da Metade Sul, que vinha enfrentando dificuldades logísticas e econômicas. “Hoje os pequenos produtores têm que mandar leite para Santo Ângelo ou Encantado, a centenas de quilômetros. Isso encarece e dificulta muito a produção”, explicou Lair.
Ele também alertou para as perdas com transporte, especialmente no verão. “O leite precisa ser mantido a menos de 7 graus. Em viagens longas, no calor, o risco de perda é alto. Agora teremos um centro de beneficiamento próximo novamente.”
Com a planta em operação, será possível fortalecer o trabalho de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa, que já atua na região com estudos voltados à pecuária leiteira. “Sem uma usina local, a própria atuação da Embrapa ficava comprometida. Agora o ciclo pode se fechar com mais eficiência.”
Atividades já podem ser iniciadas
A autorização judicial permite que a empresa comece imediatamente os preparativos para a reativação, mesmo antes de efetuar o pagamento. “Já assumiram a segurança do local, que sofreu com furtos de cabos e sucateamento. Agora vão poder fazer as reformas, comprar novos equipamentos e iniciar as contratações”, contou Lair.
A expectativa é que, nos próximos meses, a movimentação em torno da planta já impacte positivamente a economia da região, mesmo antes da produção de fato começar. “Só com a compra de materiais e a contratação de serviços para a manutenção, já teremos reflexos positivos”, concluiu.
As informações são da RadioCom.
Imagens de A Hora do Sul







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